21 de agosto de 2012

Semântica: Formal, Estrutural, de Enunciação ou Argumentativa

Segundo Müller e Viotti (2003), “tem semântica de todo tipo. Tem semântica textual, semântica cognitiva, semântica lexical. Tem semântica argumentativa, semântica discursiva, …. Todas elas estudam o significado, cada uma do seu jeito.  Tamanha variedade já mostra que o estudo do significado pode ser feito de vários ângulos."

Assim sendo, o estudo semântico pode manifestar-se, dentre diversas abordagens, segundo a:

• Semântica Formal;

• Semântica Estrutural;

• Semântica da Enunciação;


 

A SEMÂNTICA FORMAL


A Semântica Formal considera como uma propriedade central das línguas humanas o ser sobre algo, i. e., o fato de que as línguas naturais são utilizadas para falar sobre objetos, indivíduos, fatos, eventos, propriedades, …, descritos como externos à própria língua. Assim, a referencialidade é tomada como uma de suas propriedades fundamentais. Por esta razão, na Semântica Formal, o significado é entendido como uma relação entre a linguagem por um lado, e, por outro, aquilo sobre o qual a linguagem fala.

Essa vertente afirma que o significado de uma sentença é o tipo de situação que ela descreve e que a descrição destas situações possíveis é equivalente às condições de verdade da sentença.

Note:

(1) Todas as aves têm penas.

(2) A cegonha é uma ave.

(3) Logo, a cegonha tem penas.



A Semântica Formal pode ser descrita como um projeto que procura responder às seguintes perguntas:

• O que "representam" ou "denotam" as expressões linguísticas?

• Como calculamos o significado de expressões complexas a partir dos significados de suas partes?


 

SEMÂNTICA ESTRUTURAL


A Semântica Estrutural tem sua fonte nos estudos saussureanos, onde signo e significante associam-se levando em conta o componente léxico.

A concepção de signo de Saussure influencia Hjelmslev, que propõe uma análise componencial do sentido, entendida como uma abordagem estrutural da semântica. O objetivo da semântica estrutural, em Hjelmslev, é “o estabelecimento, de um ponto de vista imanente, ou seja, sem recorrer a nenhuma classificação extralingüística, de categorias semânticas responsáveis, numa língua ou num estado de língua, pela criação de significados. [...] a totalidade que a semântica estrutural pretendia descrever era o léxico das línguas.”

Esta concepção defendia que o significado de um signo linguístico não deve ser considerado isoladamente, mas antes deve ser determinado pela sua posição em relação às estruturas linguísticas de que faz parte.

Oliveira (2008), em referência a exemplo apresentado por Saussure, pondera que “‘Sinônimos como recear, temer, ter medo só têm valor próprio pela oposição; se recear não existisse, todo seu conteúdo iria para os seus concorrentes’. Portanto, cada palavra de uma língua tem seu conteúdo semântico influenciado pelo conteúdo semântico das outras palavras dessa língua, e todas as palavras, por se relacionarem entre si, fazem da língua um sistema estruturado.”


 

SEMÂNTICA DA ENUNCIAÇÃO


A Semântica da Enunciação, também conhecida como Semântica Argumentativa, contempla uma abordagem onde a intencionalidade do falante denota a significação contida na mensagem. Em outras palavras, considera-se o enunciado como fonte prioritária da informação a ser transmitida.

Koch (2002) afirma que a Semântica da Enunciação “tem por função identificar enunciados cujo traço constitutivo é o “de serem empregados com a pretensão de orientar o interlocutor para certos tipos de conclusão, com exclusão de outros”. Ou, simplificando, com a pretensão de argumentar.


A Semântica da Enunciação pode manifestar-se, dentre várias formas, em:

 

→ POLIFONIA


(1) O médico é adepto da filantropia.

Há apenas uma pessoa na sentença, logo, ela é um médico filantropo.



 → PRESSUPOSIÇÃO


(2) Joãozinho retornou à escola.

Se Joãozinho retornou é porque ele havia saído ou ausentado-se da escola.


 

Referências Bibliográficas

CANÇADO, Márcia. Manual de Semântica. Belo Horizonte: UFMG, 2008.

CEREJA, William Roberto. Gramática Reflexiva.Texto, Semântica e Interação. São Paulo: Atual, 2005.

GUIMARÃES, Eduardo R.J.Textos e Argumentação. Um estudo de conjunções do português. Campinas: Pontes, 2007.

HJELMSLEV, Louis. Ensaios lingüísticos. São Paulo: Perspectiva, 1991.

ILARI, R. Introdução à semântica. São Paulo: Contexto, 2003.

KOCH, Ingedore G. Villaça. A Inter-ação pela linguagem. São Paulo: Cortez, 1995.

KOCH, Ingedore G. Villaça. Argumentação e linguagem. São Paulo: Cortez, 2002.

MULLER, Ana . Semântica Formal. In: Fiorim, José Luiz. (Org.). Introdução à Linguistica. II Princípios de Análise. 1 ed. São Paulo: Contexto, 2003, v. 2, p. 137-159.

MUSSALIM, Fernanda; BENTES, Anna Cristina (org). Introdução à lingüística – domínios e fronteiras. São Paulo: Cortez, 2006.

OLIVEIRA, L.A. Manual de Semântica. Rio de Janeiro: Vozes, 2008.

PERINI, Mário. A Gramática Descritiva do Português. São Paulo: Ática 2000.

Semântica estruturalista. In Infopédia [Em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2012. [Consult. 2012-08-21]. Disponível na www: <URL: http://www.infopedia.pt/$semantica-estruturalista>.

ZANDWAIS, Ana (org.) Relações entre pragmática e enunciação. Porto Alegre: Sagra-Luzzatto, 2002.

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