28 de agosto de 2012

INTERTEXTUALIDADE


A intertextualidade ocorre quando dois textos relacionam-se entre si, de modo que um faça referência ao outro; sua função varia de acordo com o contexto em que é empregada.

Comumente são consideradas modalidades de intertextualidade:



Epígrafe: É uma escrita introdutória, reproduz trechos ou “falas” de outra pessoa que não o emissor do texto. É muito usada na produção de trabalhos científicos;

Ex.:

"Ninguém educa ninguém,
ninguém educa a si mesmo,
os homens se educam entre si,
mediatizados pelo mundo."
(Paulo Freire)




Citação
É a reprodução de uma manifestação textual alheia, muito usada para reforçar determinado argumento. Se manifesta entre aspas ou com recuo de texto;

Ex.:
Segundo Montessori, "a primeira idéia que uma criança precisa ter é a da diferença entre bem e o mal. E a principal função do educador é cuidar para que ela não confunda o bem com a passividade e o mal com a atividade."





Paródia: É uma forma de reprodução de determinado texto, no entanto rompe com a semântica original, atribuindo-lhe novas construções significativas. Faz uso de elementos como ironia e satirização.

Ex.:Uma canção
(Mário Quintana)


Minha terra não tem palmeiras...
E em vez de um mero sabiá,
Cantam aves invisíveis
Nas palmeiras que não há.
Minha terra tem relógios,
Cada qual com sua hora
Nos mais diversos instantes...
Mas onde o instante de agora?
Mas onde a palavra "onde"?
Terra ingrata, ingrato filho,
Sob os céus da minha terra
Eu canto a Canção do Exílio!



Observe abaixo exemplos característicos de intertextualidade:

Texto I:
Canção do Exílio
(Gonçalves Dias)
 
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá;
As aves, que aqui gorjeiam,
Não gorjeiam como lá.
 
Nosso céu tem mais estrelas,
Nossas várzeas têm mais flores,
Nossos bosques têm mais vida,
Nossa vida mais amores.
 
Em cismar, sozinho, à noite,
Mais prazer eu encontro lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.
 
Minha terra tem primores,
Que tais não encontro eu cá;
Em cismar –sozinho, à noite–
Mais prazer eu encontro lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.
 
Não permita Deus que eu morra,
Sem que eu volte para lá;
Sem que disfrute os primores
Que não encontro por cá;
Sem qu'inda aviste as palmeiras,
Onde canta o Sabiá.




 


Texto II:
Canto de regresso à pátria
   (Oswald de Andrade)
 
 
Minha terra tem palmares 
Onde gorjeia o mar  
Os passarinhos daqui  
Não cantam como os de lá 
 
Minha terra tem mais rosas 
E quase que mais amores 
Minha terra tem mais ouro 
Minha terra tem mais terra 
 
Ouro terra amor e rosas 
Eu quero tudo de lá  
Não permita Deus que eu morra
Sem que volte para lá  
 
Não permita Deus que eu morra
Sem que volte pra São Paulo 
Sem que veja a Rua 15 
E o progresso de São Paulo






Texto III:
        Europa, França e Bahia
(Carlos Drummond de Andrade)
  
[...] Mas a Rússia tem as cores da vida.
A Rússia é vermelha e branca.
Sujeitos com um brilho esquisito nos olhos criam o filme bolchevista
E no túmulo de Lenin em Moscou parece que um coração enorme
Está batendo, batendo mas não bate igual ao da gente...
 
Chega!
Meus olhos brasileiros se fecham saudosos.
Minha boca procura a "Canção do exílio".
Como era mesmo a "Canção do exílio"?
Eu tão esquecido de minha terra...
Ai terra que tem palmeiras
Onde canta o sabiá.


 
Referências Bibliográficas
AMARAL, Emília. et. all. Novas Palavras: Literatura, Gramática, Redação e Leitura. Vol. 1. São Paulo: FTD, 1997.
AMARAL, Emília. et. all. Novas Palavras: Literatura, Gramática, Redação e Leitura. Vol. 2. São Paulo: FTD, 1997.
BRAIT, Beth. A personagem. São Paulo: Ática, 2006.
CÂNDIDO, Antônio. A personagem de ficção. São Paulo: Perspectiva, 2007.
D’ONOFRIO, Salvatore. Teoria do texto I. São Paulo: Ática, 1995.
GOLDSTEIN, N. Versos, sons e ritmos. São Paulo: Ática, 2007.
MOISÉS, M. A criação literária: prosa I. São Paulo: Cultrix, 2003.
 _________. A criação literária: poesia. São Paulo: Cultrix, 1998.
Print Friendly and PDF

0 comentários:

Enviar um comentário