15 de janeiro de 2013

Mecanismos de Flexão das Palavras


A Flexão caracteriza-se como a variação da forma e, consequentemente, de significado de uma palavra. Ocorre apenas quando as palavras são empregadas em um enunciado. Convém ressaltar que somente podem ser flexionadas as palavras variáveis, dado o fato de que as palavras invariáveis, como o próprio nome diz, não sofrem mudanças em sua forma. Não obstante, cada tipo de flexão é sistemático, ou seja, vale para todas ou quase todas as palavras da mesma classe; um exemplo disto é o substantivo, pois todas as palavras componentes dessa classe, com raras exceções, podem ser flexionadas em número. Desse modo, na língua portuguesa as flexões podem se apresentar em gênero, número, grau, tempo, modo e pessoa.

Flexão de Gênero

Por flexão de gênero entende-se a classificação através da qual identifica-se uma palavra variável como sendo masculina ou feminina. Essa flexão pode ser encontrada nas classes: substantivo, adjetivo, artigo, pronome e numeral. É necessário compreender que os gêneros masculino e feminino não são definidos através da diferenciação por sexo, pois a noção de gênero não se aplica apenas a seres sexuados (como pessoas e animais), mas também a coisas (seres inanimados).


Flexão de Número

Por flexão de número entende-se a classificação através da qual identifica-se uma palavra variável como sendo singular ou coletiva (plural). Essa flexão pode ser encontrada nas classes: substantivo, artigo, adjetivo, numeral e verbo.
A concordância que se estabelece entre o substantivo e o adjetivo é obrigatória segundo a gramática normativa. Por isso, a flexão de gênero e de numero do substantivo implica flexão correspondente do adjetivo. Mas a concordância de número pode não acontecer de fato e um dos termos ficar sem flexão numérica. Nesse caso, a gramática normativa assinala a ocorrência de erro de concordância. A não-concordância de número pode se dar ainda entre outros termos de uma oração, fato estudado pelo campo da sintaxe; em todos os casos a gramática normativa reconhece erro de concordância.


Flexão de Grau

Por flexão de grau entende-se a classificação através da qual identifica-se o tamanho (no substantivo) e a intensidade (no adjetivo) de uma palavra variável e de uma classe de palavras invariáveis: o advérbio. Em muitas vezes o grau não identifica intensidade ou tamanho, mas expressa estado emotivo; é o caso de “doutorzinho” e “filhinho”. No advérbio, a flexão de grau manifesta-se em palavras como “cedinho”.
Para a linguística contemporânea o grau não se constitui como flexão. Essa concepção pode ser entendida através de considerações como:

1) Para indicar variação de tamanho há duas possibilidades, e nenhuma delas implica o uso de desinência. Observe a exemplificação disto abaixo:
a) É um menino pequeno. → O substantivo não se flexionou;
b) É um menininho → O substantivo recebeu apenas um sufixo (-inho) e não uma desinência.
c) Estou muito feliz → O adjetivo não se flexionou;
d) Estou felicíssimo → O adjetivo recebeu um sufixo (-íssimo) e não uma desinência.

2) O grau do adjetivo não exige concordância com o grau do substantivo, isto é, o adjetivo pode indicar mudança de grau sem que o substantivo o acompanhe nessa mudança. De modo que pode-se dizer “Era um homem felicíssimo” e não obrigatoriamente “Era um homenzarrão felicíssimo”. Segundo os lingüistas, a flexão obriga, necessariamente, palavras e relação de interdependência a assumirem as mesmas mudanças. Esse fenômeno (concordância) ocorre sempre entre o substantivo e o adjetivo que a ele se refere. Como essa concordância não é obrigatória em relação ao grau, mas apenas em relação ao gênero e ao número, nega-se a expressão de grau como uma flexão.

As mudanças formais das palavras para expressar graus seriam casos de derivação sufixal. Apesar dessas objeções, a NBG considera a expressão de grau como um tipo de flexão.


Flexões de Tempo, Modo e Pessoa

Somente os verbos, especificamente, apresentam esses tipos de flexão. A flexão de tempo consiste na mudança da forma com a finalidade de indicar o momento em que ocorre o fato. A flexão de modo consiste na mudança da forma com a finalidade de indicar as diferentes atitudes do emissor em relação ao fato que se deseja expressar. Os modos podem pertencer ao Indicativo, Subjuntivo e Imperativo. Observe os exemplos de modo abaixo.

Ex.: O menino desligou-se da tribo. (Indicativo).

É possível que o menino se desligue da tribo. (Subjuntivo)
Menino, ouça um conselho: desligue-se da tribo.

A flexão de pessoa permite ao verbo relacionar-se com as três classes gramaticais (1ª pessoa: eu, nós; 2ª pessoa: tu, vós; 3ª pessoa: ele[s], ela[s]). Essa flexão indica a concordância do verbo com a pessoa gramatical que lhe serve de sujeito. As desinências verbais são morfemas que carregam dois significados simultâneos: de tempo e de pessoa. Na forma amávamos, por exemplo, o morfema –mos indica 1ª pessoa (flexão de pessoa) do plural (flexão de número) do Pretérito Imperfeito (indicativo).



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