10 de setembro de 2012

O Trovadorismo

O Trovadorismo se estende do final do século XII ao século XIV, é o período literário que reúne basicamente os poemas feitos pelos trovadores para serem cantados em feiras, festas e nos castelos durante os últimos séculos da Idade Média. É contemporâneo às lutas pela independência, ao surgimento do Estado português e à dinastia de Borgonha (a primeira dinastia perdurou de 1109 a 1385).


Os historiadores costumam limitar o Trovadorismo entre os anos de 1189 (ou 1198) e 1385. Mais importante que essas datas convencionais é saber que o Trovadorismo corresponde à primeira fase da história portuguesa: ao período da formação de Portugal como reino independente.



A poesia trovadoresca se manifesta através de cantigas, que se dividem em:


                                            Cantigas de amigo
                                       /
Gênero Lírico
                                       \
                                             Cantigas de amor 

Gênero satírico   -   Cantigas de escárnio e de maldizer
  
A partir do século XIII, as cantigas passaram a ser copiadas e colecionadas em manuscritos chamados Cancioneiros.

Dentre esses, destacam-se três:
• O Cancioneiro da Ajuda: composto em fins do século XIII, no reinado de Afonso III. Constitui-se de 310 cantigas, sendo a maior parte representada por Cantigas de Amor;
• O Cancioneiro da Vaticana: criado no século XVI, constitui-se de 1.205 cantigas, incluindo todos os tipos de cantigas. Seu nome deve-se ao fato de ter sido descoberto na Biblioteca do Vaticano, em Roma.
• O Cancioneiro da Biblioteca Nacional de Lisboa: trata-se de uma cópia italiana criada no século XVI, provavelmente o original pertencia ao século anterior. Constitui-se de 1.647 cantigas, de todos os tipos.

Trovador, Jogral, Segrel e Menestrel


→ O TROVADOR era o artista completo: compunha, cantava e podia instrumentar as cantigas; as mais das vezes, era fidalgo decaído.


→ O JOGRAL era uma designação menos precisa: podia referir o saltimbanco, o truão, o actor mímico, o músico e até mesmo aquele que compunha suas melodias; de extracção inferior, por seus méritos podia subir socialmente e ser tido como trovador.

→ O SEGREL designava um artista de controvertida condição: colocado entre o jogral e o trovador, era o trovador profissional, que ia de Corte a Corte interpretando cantigas próprias ou não, a troco de soldo.
→ O MENESTREL era como se chamava o músico da Corte.

Acontecimentos que influenciaram a literatura portuguesa, e a cultura como um todo:


CONTEXTO HISTÓRICO DA 1ª FASE DE PORTUGAL

(SÉC. XII – XIV)
Ano
Acontecimento
1095
O rei Afonso VI, de Leão e Castela, concede o condado Portucalense a seu genro Henrique de Borgonha.
1109 a 1385
Dinastia de Borgonha. Declínio do feudalismo.
1139

D. Afonso Henriques, filho e sucessor de Henrique de Borgonha, após vencer os mouros em batalha, declara a independência do condado Portucalense e proclama-se rei. Início da 1ª dinastia.
1143
Reconhecimento da independência de Castela (Tratado de Zamora).
1385
Fim da Revolução de Avis; D. João I é aclamado rei de Portugal; início da dinastia de Avis.


Antes de conhecer a cronologia do Trovadorismo convém conhecer alguns aspectos dotados de importância e influência na história da Península Ibérica, são eles:





• O Feudalismo → Já em declínio, terá reflexos até mesmo na linguagem da poesia amorosa. As cortes dos reis e dos grandes senhores feudais são os centros de produção cultural e literária.

• A Reconquista do território → dominado pelos árabes desde o século VIII, faz prolongar, na nobreza ibérica, o espírito guerreiro e aventureiro das Cruzadas. Daí o gosto tardio em Portugal pelas novelas de cavalaria.
• O Teocentrismo → o profundo espírito religioso medieval que se refletirá tanto nas já citadas novelas de cavalaria como na poesia de temática religiosa (Cantigas de Santa Maria, de D. Afonso X) e nas hagiografias (vidas de santos) e obras de devoção.



CRONOLOGIA DO TROVADORISMO – SÉCULOS XII a XIV
Ano
Acontecimento
1189 ou 1198
Início do Trovadorismo. Provável data da Cantiga da Ribeirinha, de Paio Soares de Taveirós.
1385
Término do Trovadorismo. Fim da dinastia de Borgonha.

 

CARACTERÍSTICAS DO TROVADORISMO
Língua:Galego-português
Tradição:Oral e coletiva
Poesia:Cantada e acompanhada por instrumentos musicais, colecionada em Cancioneiros.
Autores:Trovadores
Intérpretes:Jograis, segréis e menestréis.
Gêneros:Lírico (cantigas de amigo, cantigas de amor) e
Satírico (cantigas de escárnio, cantigas de maldizer).




A cantiga a seguir, composta por Paio Soares de Taveirós, inaugura o período literário em língua galaico-portuguesa. Trata-se de uma Cantiga de Amor em homenagem a D. Maria Pais Ribeira, onde o eu-lírico fala do amor platônico vivenciado por um plebeu, sendo a dama amada uma mulher nobre e, logo, inacessível.


CANTIGA DA RIBEIRINHA (OU CANTIGA DE GARVAIA[1])

Versos Originais
Português Atual

No mundo non me sei parelha,
mentre me for' como me vai,
mia senhor branca e vermelha,
Queredes que vos retraia
quando vos eu vi em saia!
Mao dia me levantei,
que vos enton non vi fea!
E, mia senhor, des aquel di', ai!
me foi a mi muin mal,
e vós, filha de don Paai
Moniz, e ben vos semelha
d'haver eu por vós guarvaia,
pois eu, mia senhor, d'alfaia
Nunca de vós ouve nem ei
valía d'ũa correa.
ca ja moiro por vós - e ai!

No mundo ninguém se assemelha a mim (parelha: semelhante)
enquanto a vida continuar como vai,
porque morro por vós, e ai
minha senhora de pele alva e faces rosadas,
quereis que vos descreva (retrate)
quando vos eu vi sem manto (saia: roupa íntima)
Maldito dia! me levantei
que não vos vi feia (ou seja, a viu mais bela)
E, minha senhora, desde aquele dia, ai!
tudo me foi muito mal
e vós, filha de don Pai
Moniz, e bem vos parece
de ter eu por vós guarvaia (guarvaia: roupa luxuosa)
pois eu, minha senhora, como mimo (ou prova de amor)
de vós nunca recebi
algo, mesmo que sem valor. (correa: coisa sem valor)







[1] Garvaia é um manto de cor vermelha, costumava ser usado pela nobreza.




Veja alguns vídeos onde encontram-se reproduções de cantigas trovadorescas:


 



Fonte das imagens:









 


Referências Bibliográficas


AMARAL, Emília. et. all. Novas Palavras: Literatura, Gramática, Redação e Leitura. Vol. 1. São Paulo: FTD, 1997.


AMARAL, Emília. et. all. Novas Palavras: Literatura, Gramática, Redação e Leitura. Vol. 2. São Paulo: FTD, 1997.


BRAIT, Beth. A personagem. São Paulo: Ática, 2006.


CÂNDIDO, Antônio. A personagem de ficção. São Paulo: Perspectiva, 2007.


D’ONOFRIO, Salvatore. Teoria do texto I. São Paulo: Ática, 1995.


GOLDSTEIN, N. Versos, sons e ritmos. São Paulo: Ática, 2007.


MOISÉS, M. A criação literária: prosa I. São Paulo: Cultrix, 2003.


 _________. A criação literária: poesia. São Paulo: Cultrix, 1998.

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