17 de setembro de 2012

O Humanismo

O Humanismo ocorreu durante o século XV, é o período de transição entre as ideias teocentristas do medievo e as ideias antropocentristas do Renascimento. Corresponde à época da expansão marítima e ao início do mercantilismo europeu.





Os historiadores costumam limitar o período humanista entre o ano de 1434, quando Fernão Lopes foi nomeado cronista-mor do Reino, e o ano de 1527, data convencional para o surgimento do movimento renascentista em Portugal, iniciado pelo poeta Francisco de Sá de Miranda.

CONTEXTO HISTÓRICO DO HUMANISMO PORTUGUÊS


O período humanista corresponde basicamente ao século XV, uma das épocas mais conturbadas da história portuguesa. Entre os fatos e as grandes transformações que marcam esse período, destacam-se:



• Implantação da dinastia de Avis: em 1383/1385, uma revolução com grande apoio popular derruba a dinastia de Borgonha e elege um novo rei, D. João I, grão-mestre da Ordem de Avis. A nova dinastia quebra definitivamente a vassalagem que os reis de Portugal prestavam ao rei de Castela;

• Fim das guerras de independência. Consolidação da independência;

• Declínio da organização feudal agrária; ascensão da burguesia; desenvolvimento do comércio, sobretudo do comércio marítimo;

• Expansão ultramarina deflagrada ainda no reinado de D. João I com as conquistas na costa africana, culminando com a viagem marítima às Índias (Vasco da Gama – 1497/98) e com a descoberta do Brasil (1500); formação de império colonial português;

• A língua portuguesa firma-se como língua independente (lembre-se de que nos séculos anteriores falava-se o galego-português);

• A língua literária escrita desenvolve-se, diferenciando-se da língua falada. A prosa floresce, enquanto a poesia entra em declínio;

• A corte torna-se o principal centro de produção cultural e literária graças ao fortalecimento da casa real em detrimento das casas senhoriais.

Observe abaixo o poema Cantiga Sua Partindo-se, é uma das mais belas líricas produzidas no período humanista português, figurando entre as obras mais famosas:




      Cantiga Sua Partindo-se
(João Ruiz de Castelo Branco)

 Senhora, partem tão tristes
Meus olhos por vós, meu bem,
Tão tristes, tão saudosos,
Tão doentes da partida,

Partem tão tristes os tristes,
Que nunca tão tristes vistes
Outros nenhuns por ninguém.

Tão cansados, tão chorosos,
Da morte mais desejosos
Cem mil vezes que da vida.

Tão fora d’esperar bem
Que nunca tão tristes vistes
Outros nenhuns por ninguém.


Note que a há muita semelhança entre esse poema e as cantigas do Trovadorismo, especialmente no que diz respeito às Cantigas de Amigo. Em primeira instância convém notar a simplicidade expressiva, trata-se do momento em que o português efetivou-se como língua independente e passou a ser usado dissociadamente do galego.

Logo no primeiro verso surge "Senhora", forma de tratamento que nos remete ao "mia senhor" característico da vassalagem amorosa predominante nas cantigas trovadorescas. Perceba que a temática do poema envolve um casal que está separado, mas, ao contrário do que ocorria na Cantiga de Amigo, é o amado quem chora a saudade e expressa a dor da separação.

Não obstante, a profunda tristeza  transmitida pelo poema é enriquecida pelo uso de figuras de linguagem como a metonímia (a parte pelo todo. Em "partem tão tristes meus olhos", olhos é a representação de todo o corpo) e a hipérbole (exagero, como em "da morte mais desejosos cem mil vezes que da vida).


 


CRONOLOGIA DO HUMANISMO – SÉCULO XV


Ano


Acontecimento


1434


Início do Humanismo. Fernão Lopes é nomeado cronista-mor do Reino.


1527


Término do Humanismo. Francisco de Sá de Miranda inicia o Renascimento em Portugal.


CARACTERÍSTICAS DO HUMANISMO



• Florescimento da prosa;
  declínio da poesia;

• Manifestações literárias:
→ Poesia palaciana;
→ Prosa doutrinária;
→ Historiografia;
→ Teatro de Gil Vicente,

A POESIA PALACIANA


I. Poesia Palaciana


(Nuno Gonçalves: Painel do Políptico de São Vicente,
c.1470 e 1480. Museu Nacional de Arte Antiga)




O trovadorismo entrara em declínio desde os meados do século XIV. O interesse da corte pela poesia só voltará a se manifestar um século mais tarde, a partir do reino de Afonso V.



Tudo o que conhecemos dessa segunda fase da produção poética portuguesa está reunido no Cancioneiro Geral, organizado por Garcia de Resende e publicado em 1516.



Constitui o momento de transição entre a tradição medieval e a concepção moderna da poesia.



Chamamos a poesia desse período de Poesia Palaciana porque estava ligada à vida social das cortes de D. Afonso V, D. João II e D. Manuel. De modo geral, foi produzida para entretenimento nos serões do palácio, o que explica o caráter circunstancial, superficial e lúdico de muito poemas.



Apesar disso, encontramos na poesia palaciana alguns dos mais belos poemas da lírica portuguesa.


II. A Prosa do Período Humanista


A prosa humanista tem especial importância na evolução da língua portuguesa, que era ainda pouco adequada à discussão de ideias abstratas, o que se fazia até então em latim.

Os autores tiveram de aperfeiçoar a sintaxe, sobretudo a subordinação, e o sistema de pontuação. O vocabulário, insuficiente para a expressão de pensamentos mais complexos, precisou ser adaptado e ampliado. Aos poucos a língua foi adquirindo a estrutura que lhe daria as características modernas que conserva até hoje.


A PROSA DOUTRINÁRIA DE AVIS



Na dinastia de Avis a corte tornou-se o centro da produção cultural portuguesa. Os próprios reis, D. João I e D. Duarte, e o príncipe regente D. Pedro, interessados pelos problemas teóricos, escreveram obras de caráter doutrinário, religioso, moral, político e técnico.



Principais obras:

• Livro de montaria, de D. João I;

• Ensinança de bem cavalgar toda sela, de D. Duarte.
• Virtuosa benfeitoria e Leal Conselheiro, de D. Pedro;


Fernão Lopes é considerado o fundador da historiografia portuguesa. Em 1418 foi nomeado para um cargo de confiança na corte – guarda-mor da Torre do Tombo (arquivo do estado).

A partir de 1934, e pelos vinte anos seguintes, exerceu o cargo de cronista-mor do Reino, encarregado oficialmente por D. Duarte de “pôr em crônica as estórias dos Reis que antigamente em Portugal foram”.

Das crônicas que escreveu só nos restam três:
• Crônicas de D. Pedro;

• Crônica de D. Fernando;

• Crônica de D. João I (primeira e segunda partes).



Os sucessores de Fernão Lopes no cargo de cronista-mor foram:

• Gomes Eanes de Zurara – cronista-mor a partir de 1454;

• Rui de Pina – cronista-mor a partir de 1497.


 → CARACTERÍSTICAS DA HISTORIOGRAFIA DE FERNÃO LOPES


a) Investigação crítica das fontes;
b) Concepção medieval e regiocêntrica da história;



Entretanto, certos aspectos originais de suas crônicas o aproximam de uma concepção moderna da História:

• as ações individuais dos heróis são combinadas com os movimentos de massa, o povo é visto como força decisiva nos acontecimentos históricos;

• em sua obra, pela primeira vez se apresenta o painel de uma coletividade nacional portuguesa;

• o cronista considera as causas econômicas dos fatos.

c) Qualidades artísticas.



III. O teatro de Gil Vicente





Não se pode falar de um teatro português anterior a Gil Vicente. Apesar disso, sua obra é a síntese mais bem acabada do teatro medieval europeu e exerce influência até hoje, em Portugal e no Brasil.

→ CARACTERÍSTICAS DO TEATRO DE GIL VICENTE



a) Mentalidade medieval;

b) Teatro popular;

c) Teatro alegórico;

d) Teatro de tipos;

e) Teatro de Quadros;

f) Rupturas da linearidade do tempo e despreocupação com a verossimilhança;
g) Teatro cômico e satírico. 


Fonte das imagens: http://pt.wikipedia.org/wiki/Pintura_de_Portugal


Referências Bibliográficas

AMARAL, Emília. et. all. Novas Palavras: Literatura, Gramática, Redação e Leitura. Vol. 1. São Paulo: FTD, 1997.
AMARAL, Emília. et. all. Novas Palavras: Literatura, Gramática, Redação e Leitura. Vol. 2. São Paulo: FTD, 1997.
BRAIT, Beth. A personagem. São Paulo: Ática, 2006.
CÂNDIDO, Antônio. A personagem de ficção. São Paulo: Perspectiva, 2007.
D’ONOFRIO, Salvatore. Teoria do texto I. São Paulo: Ática, 1995.
GOLDSTEIN, N. Versos, sons e ritmos. São Paulo: Ática, 2007.
MOISÉS, M. A criação literária: prosa I. São Paulo: Cultrix, 2003. 
_________. A criação literária: poesia. São Paulo: Cultrix, 1998.
Print Friendly and PDF

0 comentários:

Enviar um comentário