15 de janeiro de 2013

Linguagem, Língua, Linguística - Margarida Petter


Antes de adentrarmos o campo linguístico, vamos conhecer um dos precursores do ESTRUTURALISMO; corrente de pensamentos que entende a língua como um sistema a ser analisado por suas ligações com os demais elementos, como numa estrutura. O termo estruturalismo tem origem no Cours de Linguistique Générale de Ferdinand de Saussure (1916).
Saussure (1857 – 1913) foi um linguista e filósofo suíço. Suas elaborações teóricas propiciaram o desenvolvimento da linguística como ciência, o que desencadeou o surgimento do estruturalismo. Ele entendia a linguística como um ramo da ciência mais geral dos signos, que ele propôs que fosse chamada de Semiologia. Seus conceitos serviram de base para o desenvolvimento do estruturalismo no século XX.

No Cours de Linguistique Générale [Curso de Linguística Geral] Saussure propôs um estudo onde a língua é considerada um sistema composto por elementos que se relacionam entre si, seja em concordância ou em discordância. O nome veio do fato de essa relação organizar-se como numa estrutura.
Basicamente, busca desvendar a origem da significância cultural contida em determinada linguagem, explorando seu processo de formação e evolução. Essa “significância” tem mais a ver com o que levou ao surgimento de determinada produção linguística do que com o objetivo de quem a produziu.

No Dicionário Aurélio é possível encontrar as seguintes definições de ESTRUTURALISMO:

1. Nas ciências humanas, designação genérica das diversas correntes que se baseiam no conceito teórico de estrutura, e no pressuposto metodológico de que a análise das estruturas é mais importante do que a descrição ou interpretação dos fenômenos, em termos funcionais.

2. Posição inovadora dos estudos linguísticos da primeira metade do século XX, que consideravam a língua como um sistema estruturado por relações formais e não evidentes para a consciência do falante, e que, metodologicamente, preconizavam a observação do maior número de fatos, de modo a fundamentar proposições que, pela generalização rigorosa, viabilizassem a descoberta da estrutura.

Saussure é famoso por desenvolver dicotomias como a de Língua e Fala. Para Saussure, a língua é um sistema de valores que se opõem uns aos outros e que está depositado como produto social na mente de cada falante de uma comunidade, possui homogeneidade e por isto é o objeto da linguística propriamente dita. Diferente da fala, que é um ato individual e está sujeito a fatores externos.

LÍNGUA é um código de comunicação adquirido no convívio social, produto do “coletivo”. Por sua homogeneidade, trata-se do objeto de estudo primordial da linguística.

LINGUAGEM é o modo como cada um faz uso da língua, embora mantenha padrões característicos da vida comum. É heterogênea, passível de alterações a serem realizadas pelo indivíduo que a emprega.



LINGUAGEM, LÍNGUA, LINGÜÍSTICA
(autora: Margarida Petter)

A complexidade do fenômeno Lingüística vem há muito desafiando a compreensão dos estudiosos. Retraçaremos, inicialmente, a história dessa busca para entender como o objeto de estudo - linguagem, língua - foi aos poucos se delineando e assumindo as configurações que hoje possui nos estudos Lingüísticos.


O QUE É A LINGUAGEM?

Está implícito na formulação dessa pergunta o reconhecimento de que as línguas naturais, notadamente diversas, são manifestações de algo mais geral, a linguagem. Tal constatação fica mais patente se pensarmos em traduzi-la para o inglês, que possui um único termo - language - para os dois conceitos - língua e linguagem. É necessário, então, que se procure distinguir essas duas noções.
O desenvolvimento dos estudos lingüísticos levou muitos estudiosos a proporem definições da linguagem, próximas em muitos pontos e diversas na ênfase atribuída a diferentes aspectos considerados centrais pelo seu autor. Neste capítulo introdutório serão apresentadas duas propostas, a de Saussure e a de Chomsky, que pressupõem uma teoria geral da linguagem e da análise Lingüística.
Saussure considerou a linguagem "heteróclita e multifacetada", pois abrange vários domínios; é ao mesmo tempo física, fisiológica e psíquica; pertence ao domínio individual e social; "não se deixa classificar em nenhuma categoria de fatos humanos, pois não se sabe como inferir sua unidade" (1969: 17). A linguagem envolve uma complexidade e uma diversidade de problemas que suscitam a análise de outras ciências, como a psicologia, a antropologia etc., além da investigação Lingüística, não se prestando, portanto, para objeto de estudo dessa ciência. Para esse fim, Saussure separa uma parte do todo linguagem, a língua - um objeto unificado e suscetível de classificação. A língua é uma parte essencial da linguagem; "é um produto social da faculdade da linguagem e um conjunto de convenções necessárias, adotadas pelo corpo social para permitir o exercício dessa faculdade nos indivíduos" (1969: 17).
A língua é para Saussure "um sistema de signos" - um conjunto de unidades que se relacionam organizadamente dentro de um todo. É "a parte social da linguagem", exterior ao indivíduo; não pode ser modificada pelo falante e obedece às leis do contrato social estabelecido pelos membros da comunidade. O conjunto linguagem-língua contém ainda um outro elemento, conforme Saussure, a fala. A fala é um ato individual; resulta das combinações feitas pelo sujeito falante utilizando o código da língua; expressa-se pelos mecanismos psicofísicos (atos de fonação) necessários à produção dessas combinações. A distinção linguagem/língua/fala situa o objeto da Lingüística para Saussure. Dela decorre a divisão do estudo da linguagem em duas partes: uma que investiga a língua e outra que analisa a fala. As duas partes são inseparáveis, visto que são interdependentes: a língua é condição para se produzir a fala, mas não há língua sem o exercício da fala. Há necessidade, portanto, de duas Lingüísticas: a Lingüística da língua e a Lingüística da fala. Saussure focalizou em seu trabalho a Lingüística da língua, "produto social depositado no cérebro de cada um", sistema supraindividual que a sociedade impõe ao falante.
Para o mestre genebrino, "a Lingüística tem por único e verdadeiro objeto a língua considerada em si mesma, e por si mesma". Os seguidores dos princípios saussureanos esforçaram-se por explicar a língua por ela própria, examinando as relações que unem os elementos no discurso e buscando determinar o valor funcional desses diferentes tipos de relações. A língua é considerada uma estrutura constituída por uma rede de elementos, em que cada elemento tem um valor funcional determinado. A
teoria de análise lingüística que desenvolveram, herdeira das idéias de Saussure, foi denominada estruturalismo. Os princípios teóricometodológicos dessa teoria ultrapassaram as fronteiras da Lingüística e a tomaram "ciência piloto" entre as demais ciências humanas, até o momento em que se tomou mais contundente a crítica ao caráter excessivamente formal e distante da realidade social da metodologia estruturalista desenvolvido pela Lingüística.
Em meados do século XX, o norte-americano Noam Chomsky trouxe para os estudos lingüísticos uma nova onda de transformação. Em seu livro Syntactic Structures (1957:13), afirma: "Doravante considerarei uma linguagem como um conjunto (finito ou infinito) de sentenças, cada uma
finita em comprimento e construída a partir de um conjunto finito de elementos". Essa definição abrange muito mais do que as línguas naturais mas, conforme seu autor, todas as línguas naturais são, seja na forma falada, seja na escrita, linguagens, no sentido de sua definição, visto que:

·         Toda língua natural possui um número finito de sons (e um número finito de si nais gráficos que os representam, se for escrita);
·         Mesmo que as sentenças distintas da língua sejam em número infinito, cada sentença só pode ser representada como uma seqüência finita desses sons (ou letras).

Cabe ao lingüista que descreve qualquer uma das línguas naturais determinar quais dessas seqüências finitas de elementos são sentenças, e quais não são, isto é, reconhecer o que se diz e o que não se diz naquela língua. A análise das línguas naturais deve permitir determinar as propriedades estruturais que distinguem a língua natural de outras linguagens. Chomsky acredita que tais propriedades são tão abstratas, complexas e específicas que não poderiam ser aprendidas a partir do nada por uma criança em fase de aquisição da linguagem. Essas propriedades já devem ser "conhecidas" da criança antes de seu contato com qualquer língua natural e devem ser acionadas durante o processo de aquisição da linguagem. Para Chomsky, portanto, a linguagem é uma capacidade inata e específica da espécie, isto é, transmitida geneticamente e própria da espécie humana. Assim sendo, existem propriedades universais da linguagem, segundo Chomsky e os que compartilham de suas idéias. Esses pesquisadores dedicam-se à busca de tais propriedades, na tentativa de construir uma teoria geral da linguagem fundamentada nesses princípios. Essa teoria é conhecida como gerativismo.
Assim como Saussure - que separa língua de fala, ou o que é lingüístico do que não é - Chomsky distingue competência de desempenho. A competência Lingüística é a porção do conhecimento do sistema lingüístico do falante que lhe permite produzir o conjunto de sentenças de sua língua; é um conjunto de regras que o falante construiu em sua mente pela aplicação de sua capacidade inata para a aquisição da linguagem aos dados lingüísticos que ouviu durante a infância. O desempenho corresponde ao comportamento lingüístico, que resulta não somente da competência Lingüística do falante, mas também de fatores não lingüísticos de ordem variada, como: convenções sociais, crenças, atitudes emocionais do falante em relação ao que diz, pressupostos sobre as atitudes do interlocutor etc., de um lado; e, de outro, o funcionamento dos mecanismos psicológicos e fisiológicos envolvidos na produção dos enunciados. O desempenho pressupõe a competência, ao passo que a competência não pressupõe desempenho. A tarefa do lingüista é descrever a competência, que é puramente Lingüística, subjacente ao desempenho.
A língua - sistema lingüístico socializado - de Saussure aproxima a Lingüística da Sociologia ou da Psicologia Social; a competência - conhecimento lingüístico intemalizado - aproxima a Lingüística da
Psicologia Cognitiva ou da Biologia.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
PETTER, Margarida. Linguagem, Língua, Linguística. In Introdução à Linguística. I. Objetos Teóricos. Editora Contexto. São Paulo: 2005.
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