17 de janeiro de 2013

A Aquisição da Linguagem


1. A AQUISIÇÃO DA LINGUAGEM – O QUE É?

1° – Fenômeno a partir do qual a criança parte de um estado inicial em que não domina uma língua/linguagem para um estado final no qual domina uma língua/linguagem;

2° – Estudo científico do fenômeno da aquisição. Ramo da Ciência que possui interfaces com a Linguística, Psicolinguística, Psicologia, Ciência Cognitiva, Neurociência Cognitiva, Neurolinguística, Antropologia e Filosofia.


→ Linguagem (latu-sensu):
• Capacidade de expressão e interação social;
• Não específica do ser humano;
• Meio de expressão e interação compartilhado por um grupo
  social ou por membros de uma espécie;
• Pouco variável numa espécie.

→ Linguagem (strictu-sensu):
• Capacidade de expressão e interação social por meio verbal;
• Específica do ser humano;
• Forma verbal de expressão e interação social;
• Variável entre grupos sociais e mesmo entre indivíduos.


2. A AQUISIÇÃO DA LINGUAGEM – O QUE É O CONHECIMENTO DA LÍNGUA?

O conhecimento da língua deve ser caracterizado em termos de uma gramática, definida como um modelo teórico do conhecimento internalizado que um falante possui sobre sua língua, ou, em outras palavras, um modelo da competência linguística.
A gramática de uma língua particular deve ser construída de forma a satisfazer a requisitos de adequação descritiva, isto é, deve dar conta da geração (descrição estrutural) das sentenças dessa língua, e somente essas.


3. A AQUISIÇÃO DA LINGUAGEM – COMO ESSE CONHECIMENTO DA LÍNGUA É ADQUIRIDO?

Assume-se a chamada Hipótese Inatista.
A Hipótese Inatista afirma que os seres humanos são biologicamente programados para adquirir uma língua, ou seja, o processo de aquisição é apenas parcialmente dependente de fatores ambientais externos. Essa dotação biológica é específica da espécie humana, visto que só os seres humanos adquirem linguagem quando a ela expostos sob determinadas condições. A tese do inatismo explica também porque adquirimos uma linguagem com as características e propriedades que são observadas nas línguas humanas naturais.


3.1 CONCEPÇÕES DO INATISMO AO LONGO DA HISTÓRIA DO GERATIVISMO

1° Momento – Dispositivo de Aquisição de Linguagem (language acquisition device – LAD)

2° Momento – Gramática Universal (GU) – Universal Grammar (UG):
• Estado Inicial do Processo de Aquisição;
• Conjunto de Princípios que restringem a forma final das gramáticas (delimita o
  número de gramáticas possíveis);
• Conjunto de Princípios que regem o funcionamento das línguas humanas.


4. A AQUISIÇÃO DA LINGUAGEM COMO FENÔMENO NATURAL

→ Sentido Amplo: aquisição de um meio verbal de expressão e interação social
• Foco em habilidades de interação/expressão linguística;
• Dificuldade de se distinguir o que diz respeito à aquisição da língua do que diz respeito ao desenvolvimento da capacidade de interação social e da possível interrelação entre esses dois processos.

→ Sentido Estrito: aquisição de uma língua materna, ou identificação de uma forma particular de linguagem verbal da comunidade na qual a criança se acha inserida (aquisição de uma gramática).
• Foco nos procedimentos de identificação, no estado de conhecimento da língua atingido, nas condições para que se realize e nos fatores que atuam no processo.


5. A AQUISIÇÃO DA LINGUAGEM – PRINCIPAIS ABORDAGENS



6. A Aquisição da Linguagem – O EMPIRISMO

• O conhecimento é derivado da experiência;
• A questão é COMO essas ideias foram adquiridas ou aprendidas. Para os empiristas, o que é inato é a capacidade de formar associações entre estímulos ou entre estímulos e respostas, com base na similaridade e contiguidade;
• Escola Filosófica diferente do Racionalismo (método de conhecimento inspirado no rigor da Matemática);
• Método dedutivo que parte do geral para o particular; primeiro elaboram-se as suposições e depois são feitas as comprovações ou não;
• Experiência é o ponto de partida de nosso conhecimento, logo, não há necessidade de fazer hipóteses.
• Parte do particular (experiências) para a elaboração de princípios gerais.


7. A Aquisição da Linguagem – O BEHAVIORISMO

A palavra inglesa behaviour (RU) ou behavior (EUA) significa comportamento, conduta. Esse abordagem apregoa que:
• O ser humano aprende essencialmente através da imitação, observação e reprodução dos comportamentos de terceiros, suas ações são meras respostas ao ambiente externo;
• Para Skinner, o aprendizado linguístico é análogo a qualquer outro aprendizado – sendo visto como aprendido por reforço e privação;



Burrhus Frederic Skinner foi um autor e psicólogo estadunidense, nasceu na Pensilvânia (1904) e faleceu em Cambridge (1990).


• O behaviorismo acaba recaindo num processo indutivo de aquisição, porque considera somente os fatos observáveis da língua, sem preocupar-se com a existência de um componente estruturador, organizador, que possa estar trabalhando junto com seus dados (experiência) na construção da gramática de uma língua particular;


PROPOSTA DE SKINNER

• Um dos principais problemas da proposta de Skinner no que diz respeito à linguagem  é a aquisição do léxico (referência e significado).;
• Outro problema é explicar como produzimos e compreendemos sentenças nunca ouvidas antes, principalmente porque nem todas as sentenças têm sua referência no contexto em que são produzidas.

Além dessas questões, os dados de aquisição trazem duas outras questões para as teorias behavioristas:

• A rapidez do processo e a competência:
Uma criança de 4 anos já é competente em sua língua nativa e domina a maior parte das regras dessa língua. Se o aprendizado se dá por imitação, seria necessário um tempo muito maior de exposição à língua para que a criança adquirisse um repertório suficiente de frases para que pudéssemos dizer que “aprendeu” uma língua.

• Quanto à competência:
Durante o processo de aquisição, as crianças produzem enunciados que nunca ouviram de seus interlocutores (cabeu, fazi...).

A teoria behaviorista durou, principalmente, nos anos 50, no domínio da psicologia como no domínio da lingüística. Além de Skinner(1957), estão associados a este teoria, do ponto de vista lingüístico, nomes como Osggod(1966) e White (1970).


8. A Aquisição da Linguagem – O CONEXIONISMO

• O conexionismo é uma proposta teórica relativamente nova (últimos vinte anos).  Para os conexistas, o aprendizado se dá nas relações entre os dados de entrada (input) e saída (output), mas admitem analogias e generalizações.
• O behaviorismo nega a existência da mente, enquanto o conexionismo tenta exatamente analisar o que ocorre entre os dados de entrada e de saída. Essa explicação é dada em termos neurais.
• Os conexistas buscam a interação entre o organismo e o ambiente;


9. A Aquisição da Linguagem – O RACIONALISMO

O racionalismo é a corrente filosófica que se iniciou com a definição do raciocínio: operação mental, discursiva e lógica. Esta abordagem faz uso de uma ou mais proposições para extrair conclusões se uma ou outra proposição é verdadeira, falsa ou provável.

O racionalismo admite a existência da mente no processo de aquisição, que a relação entre a linguagem e mente pressupõe a existência de uma capacidade inata.

Os racionalistas entendiam que para se compreender o processo da linguagem era preciso fazer um estudo levando em conta a mente, explorar o pensamento, portanto, eles faziam parte de uma concepção essencialmente mentalista, diferentemente dos empiristas que não consideravam a mente como componente fundamental para justificar o processo de aquisição, apesar de não se negar sua existência.


10. A AQUISIÇÃO DA LINGUAGEM – O INATISMO

Segundo Chomsky, esse dispositivo é formado por uma série de regras, e a criança, em contato com as sentenças de uma língua, relaciona as regras que funcionam naquela língua em particular, desativando as que não têm nenhum papel.
Assim sendo, a criança possui uma Gramática Universal (GU) inata contendo as regras da língua a qual está adquirindo. Mas, para que esse processo se inicie, não basta apenas que a criança possua essa capacidade inata, ela precisa estar em um determinado meio social, em que haja pessoas falando para que seja estimulada a falar aperfeiçoando sua performance.


11. A AQUISIÇÃO DA LINGUAGEM – O CONSTRUTIVISMO

Através dos estudos de Emilia Ferreiro e Ana Teberosky sobre a psicogênese da língua escrita, compreendeu-se um novo significado para o processo de aquisição do código escrito realizado pelas crianças.

“A leitura e a escrita não dependem exclusivamente da habilidade que o alfabetizando apresenta de ‘somar pedaços de escrita’, e sim, antes disso, de compreender como funciona a estrutura da língua e a forma como é utilizada na sociedade”.

O construtivismo coloca em evidência as hipóteses que as crianças formulam, testam, reorganizam, assimilam, acomodam e formam novas hipóteses até adquirirem a forma convencional da língua escrita.


12. A AQUISIÇÃO DA LINGUAGEM – O COGNITIVISMO

Esta proposta teórica, que vincula a linguagem à cognição, foi desenvolvida a partir dos estudos de Jean Piaget. Piaget atribui grande valor à experiência, mas não se deve confundi-lo com um empirista. Para ele, a criança constrói o conhecimento com base na experiência com o mundo físico, isto é, a fonte do conhecimento está na ação sobre o ambiente.
Piaget propõe que o desenvolvimento cognitivo passa por períodos, estágios:
• Sensório-motor ( 0 a 18 meses);
• Pré-operatório (dois a sete anos);
• Operações concretas (7 a 12 anos);
• Operações formais.

Esses estágios são universais (gerais e invariáveis) e, em cada um, a criança desenvolve capacidades necessárias para o estágio seguinte, provocando mudanças qualitativas no desenvolvimento.
Para a aquisição da linguagem, interessam os períodos sensório-motor e pré-operatório.

• Sensório-motor ( 0 a 18 meses);
É caracterizado pelos exercícios, reflexos, os primeiros hábitos, a coordenação entre visão e apreensão e a busca de objetos desaparecidos.

• Pré-operatório (dois a sete anos);
É marcado pela função simbólica e pelas organizações representativas.


13. A AQUISIÇÃO DA LINGUAGEM – O INTERACIONISMO

Vygotsky defende que o desenvolvimento da fala segue as mesmas leis, o mesmo desenvolvimento que outras operações mentais. O autor, no entanto, chama a atenção para a função social da fala, e daí a importância do outro, do interlocutor, no desenvolvimento da linguagem.
Os estudos de base interacionista apontam para o papel do adulto como quem cria a intenção comunicativa, como o facilitador do processo de aquisição.
Assim como Piaget, Vygotsky estava interessado na relação entre língua e pensamento.

Propõe-se quatro estágios no desenvolvimento das operações mentais:
Natural ou Primitivo (fala pré-intelectual e pensamento pré-verbal);
Psicologia Ingênua (a criança experimenta as propriedades físicas tanto de seu corpo quanto dos objetos, e aplica essas experiências ao uso de instrumentos – inteligência prática);
Signos Exteriores (as operações externas são usadas para auxiliar as operações internas (fala egocêntrica);
Crescimento Interior (operações externas se interiorizam).




Referências Bibliográficas
CABRAL, Leonor Scliar. Introdução à Lingüística. ed. 7. Rio de Janeiro: Globo, 1988.
FIORIN, José Luiz (org.). Introdução à Lingüística:  I. Objetos Teóricos. ed. 4. São Paulo: Contexto, 2005.
Lyons, John. Linguagem e Lingüística: Uma Introdução. Rio de Janeiro: LTC: 1987.
MUSSALIM, F. & BENTES, A. D. (Orgs). Introdução à Lingüística: Domínios e fronteiras – Volume 1. São Paulo: Cortez, 2001.
SAUSSURE, Ferdinand de. Curso de Lingüística Geral. ed. 29. São Paulo: cultrix, 2008.
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