5 de novembro de 2012

O Barroco


O Barroco pertence à Era Clássica, ou seja, à segunda era da Literatura Portuguesa. Ela estende-se do século XVI ao século XVIII e compreende três períodos, ou escolas: o Renascimento, o Barroco e o Neoclassicismo.


Assim, o movimento barroco se estende do século XVII a meados do século XVIII, corresponde ao período da Contra-Reforma, movimento da Igreja Católica em reação à Reforma protestante.
Crucificação de São Pedro
(Caravaggio, 1600-1601)

Amaral (1997) afirma que "A procedência da palavra 'barroco', como denominação genérica dos estilos da arte seiscentista, é controversa. Provavelmente teve origem na designação de uma pérola de forma muito irregular conhecida por 'pérola barroca'".

Convém notar que o Barroco acontece no momento em que:
 Os valores do antropocentrismo entram em crise e em conflito com os valores religiosos.
 O equilíbrio clássico é substituído por uma angustiada expressão da pequenez humana diante de Deus.

Os conflitos e contradições entre ideais antropocêntricos e teocêntricos podem, segundo alguns, explicar o surgimento do estilo barroco na Espanha, na Itália e em Portugal.
Desse modo, o Barroco seria, portanto, a expressão, nas artes, da profunda crise ideológica e da multiplicidade de estados de espírito do homem seiscentista, dividido entre a razão e a fé, entre a mentalidade em expansão e os valores medievais defendidos pelo clero e pela nobreza.



QUAIS CONFLITOS?


Judite e Holofernes (Caravaggio. 1598)

O Barroco ocorre no período da Contra-Reforma, movimento promovido pela Igreja Católica em reação contra a Reforma Protestante. 

Nesse momento os valores do antropocentrismo, já bastante desenvolvido, entra em conflito com os preceitos religiosos.

O homem se descobre humano, Ou seja, anseia pelo poder, desperta para o desejo, para a malícia, e demais sentimentos repreendidos pela instituição religiosa.
A angústia resulta da consciência da pequenez humana diante de Deus.



CRONOLOGIA DO BARROCO PORTUGUÊS – SÉCULOS XVII e XVIII
Ano
Acontecimento
1580
Início do Barroco. Portugal se submete ao domínio espanhol.
1756
Término do Barroco. Início do Neoclassicismo.





CARACTERÍSTICAS DO BARROCO


• Pessimismo;
• Desequilíbrio entre a razão e a emoção;
• Dualidade, contradição;
• Tendência à ilusão (fuga à realidade objetiva, subjetividade;
• Tendência à alusão (descrição indireta);
• Predomínio de figuras como a metáfora, a antítese, o paradoxo, a hipérbole, o hipérbato.


Para compreender de que forma se manifestam as características barrocas, leia o poema abaixo:


    À morte de uma dama
(António Barbosa Bacelar)

Sombras de um claro sol que me abrasava,
Cinzas de um doce fogo aonde ardia,
Ruínas de uma boca em que vivia,
Cadáver de uma vida que adorava,

Quem te trocou, senhora? O tempo estava
A teus pés, em teu rosto o sol nascia,
De tua vista se compunha o dia,
De tua ausência a noite se formava.

Pois como pôde o tempo pressuroso,
O dia breve, a noite fugitiva
Mudar um corpo e rosto tão fermoso?

Mas tanto sol e luz, tão excessiva
Ardendo de contínuo, era forçoso
Trocar-se em cinza morta a flama viva.



A irregularidade, em contraposição à simetria e à regularidade do Classicismo, é a marca do novo estilo, expressando o pessimismo, o conflito, o desequilíbrio entre a razão e a emoção.

Dentre as figuras de linguagem frequentemente adotadas no Barroco, destacam-se:

• Antítese: é a exposição de duas palavras, ideias ou expressões que se contrapõem. Ex.:"Se os olhos vêem com amor, o corvo é branco; se com ódio, o cisne é negro". (Pe. A. Vieira)


• Hipérbato: é a inversão violenta dos termos da frase.
Ex.: "A quem tirar não pode o mundo nada". (F. M. de Melo)


• Hipérbole: é o uso de uma expressão deliberadamente exagerada:
Ex.: Chorava rios de alegria.


• Metáfora: é o uso de uma palavra em seu sentido figurado, ou estabelecendo relação através de conceitos semânticos.
Ex.: O coronel é não menos que uma raposa velha.
       Raposa velha = pessoa astuta, dotada de esperteza.


O Padre Antônio Vieira figura como um dos mais importantes representantes do Barroco, conheça-o lendo abaixo um excerto do sermão O Amor e a Razão, onde você também poderá identificar características barrocas.


                                                                                                   O Amor e a Razão
Narcissus (Caravaggio, 1597)
(Pe. Antônio Vieira)



Pinta-se o amor sempre menino, porque ainda que passe dos sete anos [...], nunca chega à idade de uso da razão. Usar razão e amar são duas coisas que não se juntam. A alma de um menino que vem a ser? Uma vontade com afetos e um entendimento sem uso. Tal é o amor vulgar. Tudo conquista o amor, quando conquista uma alma; porém o primeiro rendido é o entendimento. Ninguém teve a vontade febricitante, que não tivesse o entendimento frenético. O amor deixará de variar, se for firme, mas não deixará de tresvariar, se é amor. Nunca o fogo abrasou a vontade, que o fumo não cegasse o entendimento. Nunca houve enfermidade no coração, que não houvesse fraqueza no juízo



Referências Bibliográficas

AMARAL, Emília. et. all. Novas Palavras: Literatura, Gramática, Redação e Leitura. Vol. 1. São Paulo: FTD, 1997.

AMARAL, Emília. et. all. Novas Palavras: Literatura, Gramática, Redação e Leitura. Vol. 2. São Paulo: FTD, 1997.

BRAIT, Beth. A personagem. São Paulo: Ática, 2006.

CÂNDIDO, Antônio. A personagem de ficção. São Paulo: Perspectiva, 2007.

D’ONOFRIO, Salvatore. Teoria do texto I. São Paulo: Ática, 1995.

GOLDSTEIN, N. Versos, sons e ritmos. São Paulo: Ática, 2007.

MOISÉS, M. A criação literária: prosa I. São Paulo: Cultrix, 2003.

 _________. A criação literária: poesia. São Paulo: Cultrix, 1998.

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