23 de outubro de 2012

Coesão e Coerência Textual



A Coesão e a Coerência são elementos que se fazem necessários à estrutura de um texto para que este conduza eficazmente a missão de “transmitir uma mensagem”.

Coerência Textual é a articulação entre partes de um texto, obtida através da organização lógica de idéias e significados. Um texto coerente é um texto que possui uma “unidade de sentido”.

A Coesão Textual é a ligação entre partes de um texto, sendo esta obtida a partir do uso de operadores linguísticos específicos.
Ambas são articulações gramaticais existentes entre as palavras, orações, frases, parágrafos e partes maiores de um texto que garantem sua conexão sequencial.


COERÊNCIA TEXTUAL


São fatores de grande importância para a existência de coerência, bem como para a construção semântica, num texto:

• Idéias ordenadas numa sequência lógica;
• Cuidado com a gramática, pontuação adequada;
• Fuga ao escapismo e ao invencionismo;
• Nexo do texto consigo mesmo (coerência interna);
• Nexo do texto com a realidade (coerência externa);
• Nexo do texto com a proposta dissertativa.



Note o modo como coesão e coerência se relacionam na obra de Millôr, abaixo:

A vaguidão específica


  “As mulheres têm uma maneira de falar que eu chamo de vago-específica”.
(Richard Gehman)


– Maria, ponha isso lá fora em qualquer parte.
– Junto com as outras?
– Não ponha junto com as outras, não. Senão pode vir alguém e querer fazer alguma coisa com elas. Ponha no lugar do outro dia.
– Sim senhora. Olha, o homem está aí.
– Aquele de quando choveu?
– Não, o que a senhora foi lá e falou com ele no domingo.
– Que é que você disse a ele?
– Eu disse para ele continuar.
– Ele já começou?
– Acho que já. Eu disse que podia principiar por onde quisesse.
– É bom?
– Mais ou menos. O outro parece capaz.
– Você trouxe tudo de cima?
– Não senhora, só trouxe as coisas. O resto não trouxe porque a senhora recomendou para deixar até a véspera.
– Mas traga, traga. Na ocasião, nós descemos tudo de novo. É melhor senão atravanca a entrada e ele reclama como na outra noite.
– Está bem vou ver como.
(Millôr Fernandes)




Na imagem ao lado, percebe-se o modo como foi criado um trocadilho a partir dos significados atribuídos ao vocábulo "brasília". A coerência emerge pelo fato de "Lula" ser o nome de um ex-presidente do Brasil e "Brasília" ser o nome da capital do país.






O texto abaixo, no entanto, é uma produção incoerente:
  
“O gato comeu o peixe que meu pai pescou. O peixe era grande. Meu pai é alto. Eu gosto de meu pai. Minha mãe também gosta. O gato é branco. Tenho roupas muito brancas”.


Já o texto a seguir caracteriza-se como coerente, pois o uso gramaticalmente correto dos elementos da língua permite que as sentenças se relacionem entre si.

“Meu pai pescou um peixe enorme, quase do seu tamanho - e olha que ele é um homem bem alto! Só que, quando chegou em casa, depois da pescaria, ele esqueceu o peixão sobre a mesa e o nosso gato o comeu todinho. Não tem problema, meu pai é atrapalhado, mas agente gosta dele assim mesmo”.


COESÃO TEXTUAL


A Coesão Textual é um mecanismo linguístico que articula as informações de um texto, relacionando sentenças com o que veio antes e com o que virá depois, no propósito comunicativo de, conjuntamente, tecer o texto. Em consequência, ao lermos um texto bem construído, não nos perdemos por entre os enunciados que o constituem.
  
Ex.:
Ele estava doente. Não foi à aula.
(Organização lógica: Coerência)
Ele estava doente, por isso não foi à aula.
(Relação de consequência: Coesão)


A Coesão Textual ocorre quando a interpretação de um elemento no discurso é dependente da de outro. Um pressupõe o outro. Trata-se de uma relação semântica, realizada por meio do sistema léxico-gramatical, que dá maior legibilidade ao texto. 
Ex.:
O filho desobedeceu à mãe e se deu mal. Ela sabia que isso iria acontecer com ele.
Os jovens não têm noção do perigo. Eles acham que são imunes a tudo.


A Coesão de um texto não é fruto do acaso, mas sim das relações de sentido que existem entre os enunciados. Essas são manifestadas sobretudo por certa categoria de palavras: Os Conectivos ou elementos de coesão.



 CONECTIVOS OU ELEMENTOS DE COESÃO


A função dos conectivos é exatamente a de pôr em evidência as várias relações de sentido que existem entre os enunciados. São várias as palavras que, num texto, assumem a função de conectivo ou de elemento de coesão.
  
Dentre estes, destacam-se:
• Preposições: a, de, com, para, por, etc;
• Conjunções: que, para que, quando, embora, mas, e, ou, etc;
• Pronomes: ele, ela, seu, sua, este, esse, aquele, que, o qual, etc;
• Advérbios: aqui, ali, aí, lá, assim, etc.


COERÊNCIA E COESÃO TEXTUAL


É possível que haja Coerência sem Coesão Textual, conforme observa-se abaixo:

“Olhar fito no horizonte. Apenas o mar imenso. Nenhum sinal de vida humana. Tentativa desesperada de recordar alguma coisa. Nada”.

Da mesma forma, é possível que haja Coesão sem Coerência textual, conforme observa-se abaixo:
“Fui à praia me bronzear porque estava nevando e, quando isso ocorre, o calor aumenta, o que faz com que sintamos frio”.


RETOMANDO A COESÃO TEXTUAL...


Recorde sempre que Coesão não é condição necessária nem suficiente para que uma composição verbal seja tomada como texto. No entanto, o uso de elementos coesivos possui o adicional de assegurar a legibilidade, explicitando os tipos de relações entre os elementos componentes do texto.

São mecanismos de Coesão Textual:


1 Referencial;
2 Elipse;
3 Lexical;
4 Substituição;
• Conjunção ou Conexão.


OS MECANISMOS DE COESÃO TEXTUAL

ELEMENTOS COESIVOS


A função dos elementos coesivos é tornar mais claras e precisas as idéias expressas no texto, de modo a garantir legibilidade e evitar ambiguidades ou incoerências.


1 COESÃO REFERENCIAL


A coesão referencial é estabelecida por meio de expressões que retomam ou antecipam idéias mencionadas no texto, estando intimamente relacionada com as regras de repetição e da progressão. Esse tipo de coesão serve para evitar a repetição desnecessária de termos, além de garantir que uma informação nova esteja claramente conectada a outra que já havia sido mencionada. Tal fenômeno pode se dar, basicamente, de duas formas:

1.1 Emprego de Pronomes:
Os pronomes são bastante úteis para evitar repetições desnecessárias, pois permitem o encadeamento de idéias e podem substituir os termos a que remetem. Observe abaixo o mecanismo que ocasiona a referenciação a um termo através de um pronome.

Ex.:
a) “Nos cursos de Educação Física está ocorrendo uma revolução, que vem provocando questionamentos sobre alguns conceitos...”
b) O Brasil exporta cacau e soja. Esta é plantada na região Sul; aquele, no Nordeste.
c) Vi no outro lado da rua o João, chamei-o, disse-lhe o que pretendia, e ele acolheu a minha idéia e ajudou-me.
d) Peço-lhe apenas isto: que não se perca.
e) O cão seguia-o para todo o lado, reparou o rapaz quando se voltou
f) Esta foi sempre a minha doutrina: tudo que há de bom e útil no mundo, se consegue procedendo por amor ao próximo.
g) O Brasil é um país onde o incentivo à educação é primordial.


1.2. Emprego de Itens do Léxico na Coesão Referencial
Quando se escreve um texto, geralmente se faz necessário interromper mais o processo de composição de uma vez, em busca de um sinônimo ou uma expressão que substitua de forma adequada alguma palavra que você já usou. Isso é uma estratégia de Coesão Lexical, a qual não se resume a isso, porém.


2 COESÃO LEXICAL


A coesão lexical conecta as partes do texto e evita a repetição vocabular por meio do uso de substantivos, verbos e adjetivos; o que exige um vocabulário amplo, adquirido apenas com a leitura constante e frequentes consultas ao dicionário. Note isso nos exemplos a seguir:
Ex.:
a) João Paulo II esteve, ontem, em Varsóvia. Na capital da Polôniao papa disse que a igreja continua a favor do celibato.
b) João Paulo II esteve, ontem, em Varsóvia. Sua Santidade disse que a Igreja continua a favor de celibato.
c) Os automóveis colocados à venda durante a exposição não obtiveram muito sucesso. Isso talvez tenha ocorrido porque os carros não estavam em um lugar de destaque no evento.


3 COESÃO POR ELIPSE


Ocorre quando elemento do texto é omitido em algum dos contextos em que deveria ocorrer. Observe:
Ex.:
a) -Pedro vai comprar o carro?
    - Vai!
b) Cazuza viveu intensamente. Tinha fama de rebelde, mas queria mesmo era transgredir.


4 COESÃO POR SUBSTITUIÇÃO


Trata-se da colocação de um item lexical com valor coesivo no lugar de outro, conforme nota-se nos exemplos abaixo:
Ex.:
a) Pedro comprou um carro novo e José também.
b) Minha prima comprou um Uno. Eu também quero um.
c) O padre ajoelhou-se. Todos fizeram o mesmo.


5 CONJUNÇÃO OU CONEXÃO


A conjunção é um recurso coesivo diferente dos anteriores porque depende das relações significativas estabelecidas entre orações, entre períodos ou entre parágrafos. Os principais elementos conjuntivos são as conjunções/locuções conjuntivas, os advérbios/locuções adverbiais, preposições/locuções prepositivas e itens continuativos.

Ex.:
a) O futebol brasileiro não assusta mais ninguém e adversários mais fracos já nos vencem com certa facilidade. Apesar do quadro adverso, a torcida brasileira considera o nosso futebol o melhor do mundo.
b) Fomos a Gramado. Depois, jantamos em Nova Petrópolis.
Note que a coesão por encadeamento pode ser feita por conexão ou por justaposição.

1) A coesão por conexão traz elementos que:
a) Fazem uma gradação na direção de uma conclusão: "até", "mesmo", "inclusive" etc;
b) Argumentam em direção a conclusões opostas: "caso contrário", "ou", "ou então", "quer... quer" etc;
c) Ligam argumentos em favor de uma mesma conclusão: "e", "também", "ainda", "nem", "não só... mas também" etc;
d) Fazem comparação de superioridade, de inferioridade ou igualdade: "mais... do que", "menos... do que", "tanto... quanto" etc
e) Justificam ou explicam o que foi dito: "porque", "já que", "que", "pois" etc;
f) Introduzem uma conclusão: portanto, logo, por conseguinte, pois etc;
g) Contrapõem argumentos: "mas", "porém", "todavia", "contudo", "entretanto", "no entanto", "embora", "ainda que" etc;
h) Indicam uma generalização do que já foi dito: "de fato", "aliás", "realmente", "também" etc;
i) Introduzem argumento decisivo: "aliás", "além disso", "ademais", "além de tudo" etc;
j) Trazem uma correção ou reforçam o conteúdo do já dito: "ou melhor", "ao contrário", "de fato", "isto é", "quer dizer", "ou seja" etc;
l) Trazem uma confirmação ou explicitação: "assim", "dessa maneira", "desse modo" etc;
m) especificam ou exemplificam o que foi dito: "por exemplo", como etc.


2) Os elementos coesivos por justaposição estabelecem a sequência do texto, ou seja:
 a) introduzem o tema ou indicam mudança de assunto: "a propósito", "por falar nisso", "mas voltando ao assunto" etc;
b) marcam a sequência temporal: "cinco anos depois", "um pouco mais tarde" etc;
c) indicam a ordenação espacial: "à direita", "na frente", "atrás" etc;
d) indicam a ordem dos assuntos do texto: "primeiramente", "a seguir", "finalmente“ etc.


Referências Bibliográficas
FIORIN, José Luiz; SAVIOLI, Francisco Platão. Para Entender O Texto: Leitura E Redação. 18 ed. São Paulo: Ática, 2007.
GARCIA, Othon Moacyr. Comunicação Em Prosa Moderna: Aprenda A Escrever, Aprendendo A Pensar. 24. ed. Rio de Janeiro: FGV, 2004.
GERALDI, João Wanderley. O Texto Na Sala De Aula. 5. ed. São Paulo: Ática, 2007.
_______________________; CITELLI, Beatriz (Coord.). APRENDER E ENSINAR COM TEXTOS DE ALUNOS. 6. ed. São Paulo: Cortez, 2008.
RANGEL, Mary. Dinâmicas De Leitura Para Sala De Aula. 4 ed. Petrópolis-RJ: Vozes, 2006.
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