1. A AQUISIÇÃO DA LINGUAGEM – O QUE É?
1° – Fenômeno a partir do qual a criança parte de um
estado inicial em que não domina uma língua/linguagem para um estado final no
qual domina uma língua/linguagem;
2° – Estudo científico do fenômeno da aquisição.
Ramo da Ciência que possui interfaces com a Linguística, Psicolinguística,
Psicologia, Ciência Cognitiva, Neurociência Cognitiva, Neurolinguística,
Antropologia e Filosofia.
→ Linguagem (latu-sensu):
• Capacidade de expressão e interação social;
• Não específica do ser humano;
• Meio de expressão e interação compartilhado por um
grupo
social ou
por membros de uma espécie;
• Pouco variável numa espécie.
→ Linguagem (strictu-sensu):
• Capacidade de expressão e interação social por
meio verbal;
• Específica do ser humano;
• Forma verbal de expressão e interação social;
• Variável entre grupos sociais e mesmo entre
indivíduos.
2. A AQUISIÇÃO DA LINGUAGEM – O QUE É
O CONHECIMENTO DA LÍNGUA?
O conhecimento da língua deve ser
caracterizado em termos de uma gramática, definida como um modelo teórico do conhecimento internalizado que um falante possui
sobre sua língua, ou, em outras
palavras, um modelo da competência linguística.
A gramática de uma língua particular
deve ser construída de forma a satisfazer a requisitos de adequação descritiva,
isto é, deve dar conta da geração (descrição estrutural) das sentenças dessa
língua, e somente essas.
3. A AQUISIÇÃO DA LINGUAGEM – COMO
ESSE CONHECIMENTO DA LÍNGUA É ADQUIRIDO?
Assume-se a
chamada Hipótese Inatista.
A Hipótese
Inatista afirma que os seres humanos são biologicamente programados para
adquirir uma língua, ou seja, o processo de aquisição é apenas parcialmente
dependente de fatores ambientais externos. Essa dotação biológica é específica
da espécie humana, visto que só os seres humanos adquirem linguagem quando a
ela expostos sob determinadas condições. A tese do inatismo explica também
porque adquirimos uma linguagem com as características e propriedades que são
observadas nas línguas humanas naturais.
3.1 CONCEPÇÕES DO INATISMO AO LONGO DA HISTÓRIA DO
GERATIVISMO
1° Momento – Dispositivo de Aquisição de Linguagem
(language acquisition device – LAD)
2° Momento – Gramática Universal (GU) – Universal
Grammar (UG):
• Estado
Inicial do Processo de Aquisição;
• Conjunto
de Princípios que restringem a forma final das gramáticas (delimita o
número de gramáticas possíveis);
• Conjunto
de Princípios que regem o funcionamento das línguas humanas.
4. A AQUISIÇÃO DA LINGUAGEM COMO
FENÔMENO NATURAL
→ Sentido Amplo: aquisição de um meio verbal de expressão e
interação social
• Foco em habilidades de interação/expressão
linguística;
• Dificuldade de se distinguir o que diz respeito à
aquisição da língua do que diz respeito ao desenvolvimento da capacidade de
interação social e da possível interrelação entre esses dois processos.
→ Sentido Estrito: aquisição de uma língua
materna, ou identificação de uma forma particular de linguagem verbal da
comunidade na qual a criança se acha inserida (aquisição de uma gramática).
• Foco nos procedimentos de identificação, no estado
de conhecimento da língua atingido, nas condições para que se realize e nos
fatores que atuam no processo.
5. A AQUISIÇÃO DA LINGUAGEM –
PRINCIPAIS ABORDAGENS
6. A Aquisição da Linguagem – O
EMPIRISMO
• O conhecimento é derivado da experiência;
• A questão é COMO essas ideias foram adquiridas ou
aprendidas. Para os empiristas, o que é inato é a capacidade de formar
associações entre estímulos ou entre estímulos e respostas, com base na
similaridade e contiguidade;
• Escola Filosófica diferente do Racionalismo
(método de conhecimento inspirado no rigor da Matemática);
• Método dedutivo que parte do geral para o
particular; primeiro elaboram-se as suposições e depois são feitas as comprovações
ou não;
• Experiência é o ponto de partida de nosso
conhecimento, logo, não há necessidade de fazer hipóteses.
• Parte do particular (experiências) para a
elaboração de princípios gerais.
7. A Aquisição da Linguagem – O
BEHAVIORISMO
A palavra inglesa behaviour (RU) ou behavior
(EUA) significa comportamento, conduta. Esse abordagem apregoa que:
• O ser humano aprende essencialmente através da imitação, observação e
reprodução dos comportamentos de terceiros, suas ações são meras respostas ao
ambiente externo;
• Para Skinner, o aprendizado linguístico é análogo a qualquer outro
aprendizado – sendo visto como aprendido por reforço e privação;
Burrhus Frederic Skinner foi um autor e psicólogo estadunidense, nasceu na Pensilvânia (1904) e faleceu em Cambridge (1990).
• O behaviorismo acaba recaindo num processo indutivo de aquisição,
porque considera somente os fatos observáveis da língua, sem preocupar-se com a
existência de um componente estruturador, organizador, que possa estar
trabalhando junto com seus dados (experiência) na construção da gramática de
uma língua particular;
PROPOSTA DE SKINNER
• Um dos principais problemas da proposta de Skinner no que diz respeito
à linguagem é a aquisição do léxico
(referência e significado).;
• Outro problema é explicar como produzimos e compreendemos sentenças
nunca ouvidas antes, principalmente porque nem todas as sentenças têm sua
referência no contexto em que são produzidas.
Além dessas questões, os dados de aquisição trazem
duas outras questões para as teorias behavioristas:
• A rapidez do
processo e a competência:
Uma criança de 4 anos já é competente em sua língua nativa e domina a
maior parte das regras dessa língua. Se o aprendizado se dá por imitação, seria
necessário um tempo muito maior de exposição à língua para que a criança
adquirisse um repertório suficiente de frases para que pudéssemos dizer que “aprendeu”
uma língua.
• Quanto à
competência:
Durante o processo de aquisição, as crianças produzem enunciados que
nunca ouviram de seus interlocutores (cabeu, fazi...).
A teoria
behaviorista durou, principalmente, nos anos 50, no domínio da psicologia como
no domínio da lingüística. Além de Skinner(1957), estão associados a este
teoria, do ponto de vista lingüístico, nomes como Osggod(1966) e White (1970).
8. A Aquisição da Linguagem – O
CONEXIONISMO
• O conexionismo é uma proposta teórica
relativamente nova (últimos vinte anos).
Para os conexistas, o aprendizado se dá nas relações entre os dados de
entrada (input) e saída (output), mas admitem analogias e
generalizações.
• O behaviorismo nega a existência da mente,
enquanto o conexionismo tenta exatamente analisar o que ocorre entre os dados
de entrada e de saída. Essa explicação é dada em termos neurais.
• Os conexistas buscam a interação entre o organismo
e o ambiente;
9. A Aquisição da Linguagem – O
RACIONALISMO
→ O racionalismo é a corrente filosófica que se iniciou com a definição
do raciocínio: operação mental, discursiva e lógica. Esta abordagem faz uso de
uma ou mais proposições para extrair conclusões se uma ou outra proposição é
verdadeira, falsa ou provável.
→ O racionalismo admite a existência da mente no
processo de aquisição, que a relação entre a linguagem e mente pressupõe a
existência de uma capacidade inata.
→ Os racionalistas entendiam que para se compreender
o processo da linguagem era preciso fazer um estudo levando em conta a mente,
explorar o pensamento, portanto, eles faziam parte de uma concepção
essencialmente mentalista, diferentemente dos empiristas que não
consideravam a mente como componente fundamental para justificar o processo de
aquisição, apesar de não se negar sua existência.
10. A AQUISIÇÃO DA LINGUAGEM – O
INATISMO
Segundo
Chomsky, esse dispositivo é formado por uma série de regras, e a criança, em
contato com as sentenças de uma língua, relaciona as regras que funcionam naquela
língua em particular, desativando as que não têm nenhum papel.
Assim sendo,
a criança possui uma Gramática Universal (GU) inata contendo as
regras da língua a qual está adquirindo. Mas, para que esse processo se inicie,
não basta apenas que a criança possua essa capacidade inata, ela precisa estar
em um determinado meio social, em que haja pessoas falando para que seja
estimulada a falar aperfeiçoando sua performance.
11. A AQUISIÇÃO DA LINGUAGEM – O
CONSTRUTIVISMO
Através dos
estudos de Emilia Ferreiro e Ana Teberosky sobre a psicogênese da língua
escrita, compreendeu-se um novo significado para o processo de aquisição do
código escrito realizado pelas crianças.
“A leitura e
a escrita não dependem exclusivamente da habilidade que o alfabetizando apresenta
de ‘somar pedaços de escrita’, e sim, antes disso, de compreender como funciona
a estrutura da língua e a forma como é utilizada na sociedade”.
O
construtivismo coloca em evidência as hipóteses que as crianças formulam,
testam, reorganizam, assimilam, acomodam e formam novas hipóteses até
adquirirem a forma convencional da língua escrita.
12. A AQUISIÇÃO DA LINGUAGEM – O
COGNITIVISMO
Esta
proposta teórica, que vincula a linguagem à cognição, foi desenvolvida a partir
dos estudos de Jean Piaget. Piaget atribui grande valor à experiência, mas não
se deve confundi-lo com um empirista. Para ele, a criança constrói o
conhecimento com base na experiência com o mundo físico, isto é, a fonte do
conhecimento está na ação sobre o ambiente.
Piaget
propõe que o desenvolvimento cognitivo passa por períodos, estágios:
• Sensório-motor ( 0 a 18 meses);
• Pré-operatório (dois a sete anos);
• Operações concretas (7 a 12 anos);
• Operações formais.
Esses
estágios são universais (gerais e invariáveis) e, em cada um, a criança
desenvolve capacidades necessárias para o estágio seguinte, provocando mudanças
qualitativas no desenvolvimento.
Para a
aquisição da linguagem, interessam os períodos sensório-motor e pré-operatório.
• Sensório-motor ( 0 a 18 meses);
É caracterizado pelos exercícios, reflexos, os
primeiros hábitos, a coordenação entre visão e apreensão e a busca de objetos
desaparecidos.
• Pré-operatório (dois a sete anos);
É marcado pela função simbólica e pelas organizações
representativas.
13. A AQUISIÇÃO DA LINGUAGEM – O
INTERACIONISMO
Vygotsky
defende que o desenvolvimento da fala segue as mesmas leis, o mesmo
desenvolvimento que outras operações mentais. O autor, no entanto, chama a
atenção para a função social da fala, e daí a importância do outro, do
interlocutor, no desenvolvimento da linguagem.
Os estudos
de base interacionista apontam para o papel do adulto como quem cria a intenção
comunicativa, como o facilitador do processo de aquisição.
Propõe-se
quatro estágios no desenvolvimento das operações mentais:
• Natural ou Primitivo (fala pré-intelectual
e pensamento pré-verbal);
• Psicologia Ingênua (a criança experimenta
as propriedades físicas tanto de seu corpo quanto dos objetos, e aplica essas
experiências ao uso de instrumentos – inteligência prática);
• Signos Exteriores (as operações externas
são usadas para auxiliar as operações internas (fala egocêntrica);
• Crescimento Interior (operações externas se
interiorizam).
Referências
Bibliográficas
CABRAL, Leonor Scliar. Introdução à Lingüística. ed. 7. Rio de
Janeiro: Globo, 1988.
FIORIN, José Luiz (org.). Introdução à Lingüística: I.
Objetos Teóricos. ed. 4. São Paulo: Contexto, 2005.
Lyons, John. Linguagem e Lingüística: Uma Introdução. Rio de Janeiro: LTC: 1987.
MUSSALIM, F. & BENTES, A. D. (Orgs). Introdução à Lingüística: Domínios e
fronteiras – Volume 1. São Paulo: Cortez, 2001.
SAUSSURE, Ferdinand de. Curso de Lingüística Geral. ed. 29. São
Paulo: cultrix, 2008.
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