2 de fevereiro de 2013

Chilreios Perdidos

Mentiras não me arrefecem e verdades não me desmoronam, as trilhas por mim expostas são muitas vezes marcadas por pegadas mornas, o fogo fátuo que arde em minhas entranhas é o mesmo que aprofunda o fosso donde minhas declarações transbordam. Lateja em minhas têmporas a ânsia por entregar-me ao firmamento, no levitar mais rasante suportado por minhas asas truncadas. Pensamentos crus e amarelados oscilam sobre o fio tênue que distancia meu bem do teu mal, se vão opacos entre lembranças perdidas... Pelo desfile das tuas lágrimas transcende o grasnar desesperado de uma sinceridade encoberta; é a vontade de fazer-me sol ante o negrume que sob meus olhos desperta.

Faz-se imperatriz a nau que outrora era arrastada pela corrente acobreada de devaneios disformes, soam como trovões gemidos pútridos onde pairam formas de brilho aquoso e esverdeado colorido. Nasce do ferro, gelo; e dele a mais pura melancolia, essa que acomete aos de pouca sorte e silencia aos que de tudo se riem. Eis que da algazarra se sobressai a trompa e com ela afloram as heresias. É mar o fogo onde sufoco labaredas cristalinas; macias mãos a mim estendem dedos acetinados e revelam, sob jorros de luzes díspares, ser uma emulsão de compostos draconianos.
Ah, que saudade das várzeas róseas onde soa melodicamente a palavra “exílio” e consoantes majestosas chilreiam através de precipícios vazios. Aflora facilmente a sede de novas composições, demonstrações lúdicas de um universo que a ninguém mais pertence e que a poucos se mostra. Ah, que vontade de assassinar de amores cada traço sublime que enfeita o exterior da tua mente e, seguindo linhas inexplicavelmente turvas, derramar sons perfeitos na fronte que acoberta teus ouvidos. Ah, como eu desejo ter-te à mercê da minha vontade para ensinar-lhe o real significado das coisas que não abandonam tua boca.
Essas são as tuas dores que jamais deixarão de ser, espetáculo de vaporosas personagens que só em ti parecem viver. Faces tuas oscilam pelos dias, em demonstrações de débeis titãs que a tudo comprometem, mas que nada conquistam. Ah, sonda-me o querer revelar-te como estão distantes os teus Campos Elíseos, enquanto eu tenho os meus aqui tão perto. Te torturas a cada instante numa dor que só a ti denigre, são curvadas as tuas espáduas e tua morada sob a hera torneada de neve não se distingue.
Quisera eu arrancar-te dos meus braços para poder o sol abrasar cada poro suave que desenha tua pele; falta-lhe a cor do suplício, ausenta-se do teu suor o fulgor da honra merecidamente adquirida. Entidade de tenra matiz, pairam sobre ti os ramos do salgueiro mais vigoroso; galga sem medo os degraus da tua força para que não sejam teus apenas os frutos de escassos sabores degustados por aqueles que se contentam em colher o que cai ao chão.
Aceita, pois, a verdade digna que abrilhanta a caminhada árdua e alcança mais do que podem tocar suas humanas proporções. Canta ao teu juízo uma voz matreira que a ninguém mais importa, ronda teu horizonte uma figura que não se nota... É torneio de brisas o que esmigalha cada um dos teus preciosos tijolos. Observo e uno minhas palmas em súplica para que acaricies as rochas que lhe restam em reconhecimento à necessidade de uma reação.
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