Morfologia significa, com base nos seus elementos de origem, o ‘estudo da forma’. Mas o que tal definição nos diz acerca de o que vem a ser morfologia? Não muito, como veremos.
Primeiramente, o termo forma pode ser tomado, num sentido amplo, como sinônimo de plano da expressão, em oposição a plano do conteúdo. Nesse caso, a forma compreende dois níveis de realização: os sons, destituídos de significado, mas que se combinam e formam unidades com significado; e as palavras, as quais por sua vez, têm regras próprias de combinação para a composição de unidades maiores[1]. Mas a palavra não precisa ser interpretada, necessariamente, como a unidade fundamental para representar a correlação entre o plano da expressão e o do conteúdo. Podemos atribuir esse papel ao morfema. Temos aqui, por conseguinte, duas unidades distintas como possíveis centros de interesse de nossos estudos de morfologia.
A diferença no tocante à unidade em que centra o estudo morfológico – o morfema ou a palavra – redunda de maneiras também diferentes de focalizar a morfologia. De modo muito geral, e correndo o risco de uma simplificação exagerada, podemos dizer que a noção de morfema está relacionada com o estudo das técnicas de segmentação de palavras em suas unidades constitutivas mínimas, ao passo que os estudos que privilegiam a noção de palavra preocupam-se com o “modo pelo qual estrutura das palavras reflete suas relação com outras palavras em construções maiores, como a sentena, e com o vocabulário total da língua” (Anderson, 1992: 7; 1988: 146).
Um segundo problema com relação à definição tomada do étimo, e mesmo com relação a definições que possamos extrair de dicionários, é serem elas vagas. Ao definirmos morfologia como o ramo da gramática que estuda a estrutura das palavras, por exemplo, não fazemos referência ao tipo de interesse que temos nos dados, tampouco ao tipo de dados que nos interessam. Morfologia é um termo que não tem a mesma realidade de uma pedra ou de uma árvore: pressupõe determinado modo de se conceber o que sejam linguagem e língua, e somente como parte desse quadro mais amplo – isto é, de uma teoria – é que podemos compreender que tipo de estudo está sendo levado em conta. Até mesmo se precisamos de ter na gramática algo que chamemos morfologia.
Um indivíduo que sabe sua língua é aquele que alcançou o estágio (relativamente) estável da faculdade da linguagem. Esse estágio estável é também chamado conhecimento linguístico. Ao se focalizar uma língua como conhecimento linguístico, passa-se também a concebê-la como um fenômeno individual e não social. A competência gramatical, ou conhecimento da gramática, ou sistema computacional, ou língua-I é exclusivamente humano. É ele que permite ao indivíduo criar e compreender um número infinito de frases de sua língua. Uma parte do conhecimento que temos acerca das palavras de nossa língua está representada sob o rótulo morfologia: é o que pode ser captado como generalizações acerca da estrutura das palavras. O que é imprevisível será tratado sob o rótulo léxico.
A Morfologia é o ponto de maior controvérsia no estudo de linguagem natural. Especialistas se debatem tomando posições que vão desde aquelas que consideram a Morfologia como o principal componente do estudo gramatical, até aquelas que desconsideram totalmente o nível morfológico na construção de uma teoria da gramática. Frequentemente definida como o componente da Gramática que trata da estrutura interna das palavras, nos conduz à interrogação: o que é uma palavra?[2] A existência de palavras é assumida como uma realidade pela maioria de nós, lingüistas ou não. No entanto, não é simples definir o que é uma palavra. Na linguística, como em qualquer ciência, um dos problemas básicos é identificar critérios para definirmos as unidades básicas de estudo.
0 comentários:
Enviar um comentário