PERSPECTIVAS
ATUAIS DA EDUCAÇÃO
(Moacir Gadotti)
Resumo: O conhecimento tem presença garantida
em qualquer projeção que se faça do futuro. Por isso há um consenso de que o
desenvolvimento de um país está condicionado à qualidade da sua educação. Nesse
contexto, as perspectivas para a educação são otimistas. A pergunta que se faz
é: qual educação, qual escola, qual aluno, qual professor? Este artigo busca
compreender a educação no contexto da globalização e da era da informação, tira
conseqüências desse processo e aponta o que poderá permanecer da "velha"
educação, indicando algumas categorias fundantes da educação do futuro.
Palavras-chave:
política educacional; globalização e ensino; educação e sociedade.
Nas últimas duas décadas do século XX
assistiu-se a grandes mudanças tanto no campo socioeconômico e político quanto
no da cultura, da ciência e da tecnologia. Ocorreram grandes movimentos
sociais, como aqueles no leste europeu, no final dos anos 80, culminando com a
queda do Muro de Berlim. Ainda não se tem idéia clara do que deverá
representar, para todos nós, a globalização capitalista da economia, das
comunicações e da cultura. As transformações tecnológicas tornaram
possível o surgimento da era da informação.
É um tempo de expectativas, de perplexidade
e da crise de concepções e paradigmas não apenas porque inicia-se um novo
milênio – época de balanço e de reflexão, época em que o imaginário parece ter
um peso maior. O ano 2000 exerceu um fascínio muito grande em muitas pessoas.
Paulo Freire dizia que queria chegar ao ano 2000 (acabou falecendo três anos
antes). É um momento novo e rico de possibilidades. Por isso, não se pode falar
do futuro da educação sem certa dose de cautela. É com essa cautela que serão
examinadas, neste artigo, algumas das perspectivas atuais da teoria e da
prática da educação, apoiando-se naqueles educadores e filósofos que tentaram,
em meio a essa perplexidade, apesar de tudo, apontar algum caminho para o
futuro. A perplexidade e a crise de paradigmas não podem se constituir num
álibi para o imobilismo.
No início desteséculo, H. G. Wells
dizia que "a História da Humanidade é cada vez mais a disputa de uma
corrida entre a educação e a catástrofe". A julgar pelas duas grandes
guerras que marcaram a "História da Humanidade", na primeira metade
do século XX, a catástrofe venceu. No início dos anos 50, dizia-se que só havia
uma alternativa: "socialismo ou barbárie" (Cornelius Castoriadis),
mas chegou-se ao final do século com a derrocada do socialismo burocrático de
tipo soviético e enfraquecimento da ética socialista. E mais: pela primeira vez
na história da humanidade, não por efeito de armas nucleares, mas pelo
descontrole da produção industrial, pode-se destruir toda a vida do planeta.
Mais do que a solidariedade, estamos vendo crescer a competitividade. Venceu a
barbárie, de novo? Qual o papel da educação neste novo contexto político? Qual
é o papel da educação na era da informação? Que perspectivas podemos
apontar para a educação nesse início do Terceiro Milênio? Para onde vamos?
Para iniciar, verifica-se o
significado da palavra "perspectiva". A palavra
"perspectiva" vem do latim tardio "perspectivus", que
deriva de dois verbos: perspecto, que significa "olhar até o fim, examinar
atentamente"; eperspicio, que significa "olhar através, ver bem,
olhar atentamente, examinar com cuidado, reconhecer claramente" (Dicionário
Escolar Latino-Português, de Ernesto Faria). A palavra "perspectiva"
é rica de significações. Segundo o Dicionário de filosofia, do filósofo
italiano Nicola Abbagnano, perspectiva seria "uma antecipação qualquer do
futuro: projeto, esperança, ideal, ilusão, utopia. O termo exprime o mesmo
conceito de possibilidade mas de um ponto de vista mais genérico e que menos
compromete, dado que podem aparecer como perspectivas coisas que não têm
suficiente consistência para serem possibilidades autênticas". Para o Dicionário
Aurélio, muito conhecido entre nós, brasileiros, perspectiva é a "arte de
representar os objetos sobre um plano tais como se apresentam à vista; pintura
que representa paisagens e edifícios a distância; aspecto dos objetos vistos de
uma certa distância; panorama; aparência, aspecto; aspecto sob o qual uma coisa
se apresenta, ponto de vista; expectativa, esperança". Perspectiva
significa ao mesmo tempo enfoque, quando se fala, por exemplo, em
perspectiva política, e possibilidade, crença em acontecimentos
considerados prováveis e bons. Falar em perspectivas é falar de esperança no
futuro.
Hoje muitos educadores, perplexos
diante das rápidas mudanças na sociedade, na tecnologia e na economia,
perguntam-se sobre o futuro de sua profissão, alguns com medo de perdê-la sem
saber o que devem fazer. Então, aparecem, no pensamento educacional, todas as
palavras citadas por Abbagnano e Aurélio: "projeto"
político-pedagógico, pedagogia da "esperança", "ideal"
pedagógico, "ilusão" e "utopia" pedagógica, o futuro como
"possibilidade". Fala-se muito hoje em "cenários" possíveis
para a educação, portanto, em "panoramas", representação de
"paisagens". Para se desenhar uma perspectiva é preciso
"distanciamento". É sempre um "ponto de vista". Todas essas
palavras entre aspas indicam uma certa direção ou, pelo menos, um horizonte em
direção ao qual se caminha ou se pode caminhar. Elas designam
"expectativas" e anseios que podem ser captados, capturados,
sistematizados e colocados em evidência.
UM
PASSADO SEMPRE PRESENTE
A virada do milênio é razão oportuna
para um balanço sobre práticas e teorias que atravessaram os tempos. Falar de
"perspectivas atuais da educação" é também falar, discutir,
identificar o "espírito" presente no campo das idéias, dos valores e
das práticas educacionais que as perpassa, marcando o passado, caracterizando o
presente e abrindo possibilidades para o futuro. Algumas perspectivas teóricas
que orientaram muitas práticas poderão desaparecer, e outras permanecerão em
sua essência. Quais teorias e práticas fixaram-se no ethos educacional, criaram
raízes, atravessaram o milênio e estão presentes hoje? Para entender o futuro é
preciso revisitar o passado. No cenário da educação atual, podem ser destacados
alguns marcos, algumas pegadas, que persistem e poderão persistir na educação
do futuro.
Educação Tradicional – Enraizada na sociedade de classes
escravista da Idade Antiga, destinada a uma pequena minoria, a educação
tradicional iniciou seu declínio já no movimento renascentista, mas ela
sobrevive até hoje, apesar da extensão média da escolaridade trazida pela
educação burguesa. A educação nova, que surge de forma mais clara a partir
da obra de Rousseau, desenvolveu-se nesses últimos dois séculos e trouxe
consigo numerosas conquistas, sobretudo no campo das ciências da educação e das
metodologias de ensino. O conceito de "aprender fazendo" de John
Dewey e as técnicas Freinet, por exemplo, são aquisições definitivas na
história da pedagogia. Tanto a concepção tradicional de educação quanto a nova,
amplamente consolidadas, terão um lugar garantido na educação do futuro.
A educação tradicional e a nova têm em
comum a concepção da educação como processo de desenvolvimento individual.
Todavia, o traço mais original da educação desse século é o deslocamento de enfoque
do individual para o social, para o político e para o ideológico. A pedagogia
institucional é um exemplo disso. A experiência de mais de meio século de
educação nos países socialistas também o testemunha. A educação, no século XX,
tornou-se permanente e social. É verdade, existem ainda muitos desníveis
entre regiões e países, entre o Norte e o Sul, entre países periféricos e
hegemônicos, entre países globalizadores e globalizados. Entretanto, há idéias
universalmente difundidas, entre elas a de que não há idade para se educar, de
que a educação se estende pela vida e que ela não é neutra.
Educação
Internacionalizada – No
início da segunda metade deste século, educadores e políticos imaginaram uma educação
internacionalizada, confiada a uma grande organização, a Unesco. Os países
altamente desenvolvidos já haviam universalizado o ensino fundamental e
eliminado o analfabetismo. Os sistemas nacionais de educação trouxeram um
grande impulso, desde o século passado, possibilitando numerosos planos de
educação, que diminuíram custos e elevaram os benefícios. A tese de uma educação
internacional já existia deste 1899, quando foi fundado, em Bruxelas, o
Bureau Internacional de Novas Escolas, por iniciativa do educador Adolphe
Ferrière. Como resultado, tem-se hoje uma grande uniformidade nos sistemas de
ensino. Pode-se dizer que hoje todos os sistemas educacionais contam com uma
estrutura básica muito parecida. No final do século XX, o fenômeno da globalização deu
novo impulso à idéia de uma educação igual para todos, agora não como princípio
de justiça social, mas apenas como parâmetro curricular comum.
Novas Tecnologias – As conseqüências da evolução das novas
tecnologias, centradas na comunicação de massa, na difusão do conhecimento,
ainda não se fizeram sentir plenamente no ensino – como previra McLuhan já em
1969 –, pelo menos na maioria das nações, mas a aprendizagem a distância,
sobretudo a baseada na Internet, parece ser a grande novidade educacional neste
início de novo milênio. A educação opera com a linguagem escrita e a nossa
cultura atual dominante vive impregnada por uma nova linguagem, a da televisão e
a da informática, particularmente a linguagem da Internet. A cultura do
papel representa talvez o maior obstáculo ao uso intensivo da Internet, em
particular da educação a distância com base na Internet. Por isso, os jovens
que ainda não internalizaram inteiramente essa cultura adaptam-se com mais
facilidade do que os adultos ao uso do computador. Eles já estão nascendo com
essa nova cultura, a cultura digital.
Os sistemas educacionais ainda não
conseguiram avaliar suficientemente o impacto da comunicação audiovisual e
da informática, seja para informar, seja para bitolar ou controlar as
mentes. Ainda trabalha-se muito com recursos tradicionais que não têm apelo
para as crianças e jovens. Os que defendem a informatização da educação
sustentam que é preciso mudar profundamente os métodos de ensino para reservar
ao cérebro humano o que lhe é peculiar, a capacidade de pensar, em vez de
desenvolver a memória. Para ele, a função da escola será, cada vez mais, a de ensinar
a pensar criticamente. Para isso é preciso dominar mais metodologias elinguagens,
inclusive a linguagem eletrônica.
Paradigmas Holonômicos – Entre as novas teorias surgidas
nesses últimos anos, despertaram interesse dos educadores os chamadosparadigmas
holonômicos, ainda pouco consistentes. Complexidade e holismo são palavras
cada vez mais ouvidas nos debates educacionais. Nesta perspectiva, pode-se
incluir as reflexões de Edgar Morin, que critica a razão produtivista e a
racionalização modernas, propondo uma lógica do vivente. Esses paradigmas
sustentam um princípio unificador do saber, do conhecimento, em torno do ser
humano, valorizando o seu cotidiano, o seu vivido, o pessoal, a singularidade,
o entorno, o acaso e outras categorias como: decisão, projeto, ruído,
ambigüidade, finitude, escolha, síntese, vínculo e totalidade.
Essas seriam algumas das categorias
dos paradigmas chamados holonômicos. Etimologicamente, holos, em grego,
significa todo e os novos paradigmas procuram centrar-se na
totalidade. Mais do que a ideologia, seria a utopia que teria essa força para
resgatar a totalidade do real, totalidade perdida. Para os defensores desses novos
paradigmas, os paradigmas clássicos – identificados no positivismo e
no marxismo – seriam marcados pela ideologia e lidariam com categorias
redutoras da totalidade. Ao contrário, os paradigmas holonômicos pretendem
restaurar a totalidade do sujeito, valorizando a sua iniciativa e a sua
criatividade, valorizando o micro, a complementaridade, a convergência e a
complexidade. Para eles, os paradigmas clássicos sustentam o sonho milenarista
de uma sociedade plena, sem arestas, em que nada perturbaria um consenso sem
fricções. Ao aceitar como fundamento da educação uma antropologia que concebe o
homem como um ser essencialmente contraditorial, os paradigmas holonômicos
pretendem manter, sem pretender superar, todos os elementos dacomplexidade da
vida.
Os holistas sustentam que o imaginário
e a utopia são os grandes fatores instituintes da sociedade e recusam uma ordem
que aniquila o desejo, a paixão, o olhar e a escuta. Os enfoques clássicos,
segundo eles, banalizam essas dimensões da vida porque sobrevalorizam o
macro-estrutural, o sistema, em que tudo é função ou efeito das superestruturas
socioeconômicas ou epistêmicas, lingüísticas e psíquicas. Para os novos
paradigmas, a história é essencialmente possibilidade, em que o que vale é o imaginário (Gilbert
Durand, Cornelius Castoriadis), o projeto. Existem tantos mundos quanto nossa
capacidade de imaginar. Para eles, "a imaginação está no poder", como
queriam os estudantes em maio de 1968.
Na verdade, essas categorias não são
novas na teoria da educação, mas hoje são lidas e analisadas com mais simpatia
do que no passado. Sob diversas formas e com diferentes significados, essas
categorias são encontradas em muitos intelectuais, filósofos e educadores, de
ontem e de hoje: o "sentido do outro", a "curiosidade" (Paulo
Freire), a "tolerância" (Karl Jaspers), a "estrutura de
acolhida" (Paul Ricoeur), o "diálogo" (Martin Buber), a
"autogestão" (Celestin Freinet, Michel Lobrot), a
"desordem" (Edgar Morin), a "ação comunicativa", o
"mundo vivido" (Jürgen Habermas), a "radicalidade" (Agnes
Heller), a "empatia" (Carl Rogers), a "questão de gênero"
(Moema Viezzer, Nelly Stromquist), o "cuidado" (Leonardo Boff), a
"esperança" (Ernest Bloch), a "alegria" (Georges Snyders),
a unidade do homem contra as "unidimensionalizações" (Herbert
Marcuse), etc.
Evidentemente, nem todos esses autores
aceitariam enquadrar-se nos paradigmas holonômicos. Todas as classificações e
tipologias, no campo das idéias, são necessariamente reducionistas. Não se pode
negar as divergências existentes entre eles. Contudo, as categorias apontadas
anteriormente indicam uma certa tendência, ou melhor, uma perspectiva da
educação. Os que sustentam os paradigmas holonômicos procuram buscar na unidade
dos contrários e na cultura contemporânea um sinal dos tempos, uma direção do
futuro, que eles chamam de pedagogia da unidade.
Educação Popular – O paradigma da educação
popular, inspirado originalmente no trabalho de Paulo Freire nos anos 60,
encontrava naconscientização sua categoria fundamental. A prática e a
reflexão sobre a prática levaram a incorporar outra categoria não menos
importante: a da organização. Afinal, não basta estar consciente, é
preciso organizar-se para poder transformar. Nos últimos anos, os educadores
que permaneceram fiéis aos princípios da educação popular atuaram
principalmente em duas direções: na educação pública popular – no espaço
conquistado no interior do Estado –; e na educação popular comunitária e
na educação ambiental ou sustentável, predominantemente
não-governamentais. Durante os regimes autoritários da América Latina, a
educação popular manteve sua unidade, combatendo as ditaduras e apresentando
projetos "alternativos". Com as conquistas democráticas, ocorreu com
a educação popular uma grande fragmentação em dois sentidos: de um lado ela
ganhou uma nova vitalidade no interior do Estado, diluindo-se em suas políticas
públicas; e, de outro, continuou como educação não-formal, dispersando-se
em milhares de pequenas experiências. Perdeu em unidade, ganhou em diversidade
e conseguiu atravessar numerosas fronteiras. Hoje ela incorporou-se ao
pensamento pedagógico universal e orienta a atuação de muitos educadores
espalhados pelo mundo, como o testemunha o Fórum Paulo Freire, que se
realiza de dois em dois anos, reunindo educadores de muitos países.
As práticas de educação popular também
constituem-se em mecanismos de democratização, em que se refletem os valores de solidariedade e
de reciprocidade e novas formas alternativas de produção e de consumo,
sobretudo as práticas de educação popular comunitária, muitas delas
voluntárias. O Terceiro Setor está crescendo não apenas como alternativa entre
o Estado burocrático e o mercado insolidário, mas também como espaço de novas
vivências sociais e políticas hoje consolidadas com as organizações
não-governamentais (ONGs) e as organizações de base comunitária (OBCs). Este
está sendo hoje o campo mais fértil da educação popular.
Diante desse quadro, a educação
popular, como modelo teórico reconceituado, tem oferecido grandes alternativas.
Dentre elas, está a reforma dos sistemas de escolarização pública. A vinculação
da educação popular com o poder local e a economia popular abre,
também, novas e inéditas possibilidades para a prática da educação. O modelo teórico
da educação popular, elaborado na reflexão sobre a prática da educação durante
várias décadas, tornou-se, sem dúvida, uma das grandes contribuições da
América Latina à teoria e à prática educativa em âmbito internacional. A noção
de aprender a partir do conhecimento do sujeito, a noção de ensinar a partir de
palavras e temas geradores, a educação como ato de conhecimento e de
transformação social e a politicidade da educação são apenas alguns dos legados
da educação popular à pedagogia crítica universal.
Universalização da
Educação Básica e Novas Matrizes Teóricas – Neste começo de um novo milênio, a educação
apresenta-se numa dupla encruzilhada: de um lado, o desempenho do sistema
escolar não tem dado conta da universalização da educação básica de
qualidade; de outro, as novas matrizes teóricas não apresentam ainda
a consistência global necessária para indicar caminhos realmente seguros numa
época de profundas e rápidas transformações. Essa é uma das preocupações do
Instituto Paulo Freire, buscando, a partir do legado de Paulo Freire,
consolidar o seu "Projeto da Escola Cidadã", como resposta à crise de
paradigmas. A concepção teórica e as práticas desenvolvidas a partir do
conceito deEscola Cidadã podem constituir-se numa alternativa viável, de
um lado, ao projeto neoliberal de educação, amplamente hegemônico, baseado na
ética do mercado, e, de outro lado, à teoria e à prática de uma educação
burocrática, sustentada na "estadolatria" (Antonio Gramsci). É uma
escola que busca fortalecer autonomamente o seu projeto
político-pedagógico, relacionando-se dialeticamente – não mecânica e
subordinadamente – com o mercado, o Estado e a sociedade. Ela visa formar o
cidadão para controlar o mercado e o Estado, sendo, ao mesmo tempo, pública
quanto ao seu destino – isto é, para todos – estatal quanto ao financiamento e
democrática e comunitária quanto à sua gestão.
Seja qual for a perspectiva que a
educação contemporânea tomar, uma educação voltada para o futuro será
sempre uma educação contestadora, superadora dos limites impostos pelo Estado e
pelo mercado, portanto, uma educação muito mais voltada para a transformação
social do que para a transmissão cultural. Por isso, acredita-se que
a pedagogia da práxis, como uma pedagogia transformadora, em suas várias
manifestações, pode oferecer um referencial geral mais seguro do que as
pedagogias centradas na transmissão cultural, neste momento de perplexidade.
SOCIEDADE
DA INFORMAÇÃO E EDUCAÇÃO
Costuma-se definir nossa era como a era
do conhecimento. Se for pela importância dada hoje ao conhecimento, em todos os
setores, pode-se dizer que se vive mesmo na era do conhecimento, na sociedade
do conhecimento, sobretudo em conseqüência da informatização e do processo de globalização
das telecomunicações a ela associado. Pode ser que, de fato, já se tenha
ingressado na era do conhecimento, mesmo admitindo que grandes massas da
população estejam excluídas dele. Todavia, o que se constata é a predominância
da difusão de dados e informações e não de conhecimentos. Isso está sendo
possível graças às novas tecnologias que estocam o conhecimento, de
forma prática e acessível, em gigantescos volumes de informações, que são
armazenadas inteligentemente, permitindo a pesquisa e o acesso de maneira muito
simples, amigável e flexível. É o que já acontece com a Internet: para ser
"usuário", basta dispor de uma linha telefônica e um computador.
"Usuário" não significa aqui apenas receptor de informações, mas
também emissor de informações. Pela Internet, a partir de qualquer sala de aula
do planeta, pode-se acessar inúmeras bibliotecas em muitas partes do mundo. As
novas tecnologias permitem acessar conhecimentos transmitidos não apenas por
palavras, mas também por imagens, sons, fotos, vídeos (hipermídia), etc. Nos
últimos anos, a informação deixou de ser uma área ou especialidade
para se tornar uma dimensão de tudo, transformando profundamente a
forma como a sociedade se organiza. Pode-se dizer que está em andamento uma Revolução
da Informação, como ocorreram no passado a Revolução Agrícola e
a Revolução Industrial.
Ladislau Dowbor (1998), após descrever
as facilidades que as novas tecnologias oferecem ao professor, se pergunta: o
que eu tenho a ver com tudo isso, se na minha escola não tem nem biblioteca e
com o meu salário eu não posso comprar um computador? Ele mesmo responde que
será preciso trabalhar em dois tempos: o tempo do passado e o tempo do futuro.
Fazer tudo hoje para superar as condições do atraso e, ao mesmo tempo, criar as
condições para aproveitar amanhã as possibilidades das novas tecnologias.
As novas tecnologias criaram novos
espaços do conhecimento. Agora, além da escola, também a empresa, o espaço
domiciliar e o espaço social tornaram-se educativos. Cada dia mais pessoas
estudam em casa, pois podem, de casa, acessar o ciberespaço da formação e
da aprendizagem a distância, buscar "fora" a informação
disponível nas redes de computadores interligados – serviços que respondem às
suas demandas de conhecimento. Por outro lado, a sociedade civil (ONGs,
associações, sindicatos, igrejas, etc.) está se fortalecendo não apenas como
espaço de trabalho, em muitos casos, voluntário, mas também como espaço de
difusão de conhecimentos e de formação continuada. É um espaço potencializado
pelas novas tecnologias, inovando constantemente nas metodologias. Novas oportunidades
parecem abrir-se para os educadores. Esses espaços de formação têm tudo para
permitir maior democratização da informação e do conhecimento, portanto, menos
distorção e menos manipulação, menos controle e mais liberdade. É uma questão
de tempo, de políticas públicas adequadas e de iniciativa da sociedade. A
tecnologia não basta. É preciso a participação mais intensa e organizada da
sociedade. O acesso à informação não é apenas um direito. É um direito
fundamental, um direito primário, o primeiro de todos os direitos, pois sem ele
não se tem acesso aos outros direitos.
Na formação continuada necessita-se
de maior integração entre os espaços sociais (domiciliar, escolar, empresarial,
etc.), visando equipar o aluno para viver melhor na sociedade do conhecimento.
Como previa Herbert McLuhan, o planeta tornou-se a nossa sala de aula e o nosso
endereço. O ciberespaço não está em lugar nenhum, pois está em todo o lugar o
tempo todo. Estar num lugar significaria estar determinado pelo tempo (hoje,
ontem, amanhã). No ciberespaço, a informação está sempre e permanentemente
presente e em renovação constante. O ciberespaço rompeu com a idéia de tempo
próprio para a aprendizagem. Não há tempo e espaço próprios para a
aprendizagem. Como ele está todo o tempo em todo lugar, o espaço da
aprendizagem é aqui – em qualquer lugar – e o tempo de aprender é hoje e
sempre. A sociedade do conhecimento se traduz por redes, "teias"
(Ivan Illich), "árvores do conhecimento" (Humberto Maturana), sem
hierarquias, em unidades dinâmicas e criativas, favorecendo a conectividade, o
intercâmbio, consultas entre instituições e pessoas, articulação, contatos e
vínculos, interatividade. A conectividade é a principal característica da
Internet.
O conhecimento é o grande
capital da humanidade. Não é apenas o capital da transnacional que precisa dele
para a inovação tecnológica. Ele é básico para a sobrevivência de todos e, por
isso, não deve ser vendido ou comprado, mas sim disponibilizado a todos. Esta é
a função de instituições que se dedicam ao conhecimento apoiado nos avanços
tecnológicos. Espera-se que a educação do futuro seja mais democrática, menos
excludente. Essa é ao mesmo tempo nossa causa e nosso desafio. Infelizmente,
diante da falta de políticas públicas no setor, acabaram surgindo
"indústrias do conhecimento", prejudicando uma possível visão
humanista, tornando-o instrumento de lucro e de poder econômico.
A educação, em particular a educação a
distância, é um bem coletivo e, por isso, não deve ser regulada pelo
jogo do mercado, nem pelos interesses políticos ou pelo furor legiferante de
regulamentar, credenciar, autorizar, reconhecer, avaliar, etc. de muitos
tecnoburocratas. Quem deve decidir sobre a qualidade dos seus certificados não
é nem o Estado e nem o mercado, mas sim a sociedade e o sujeito aprendente. Na
era da informação generalizada, existirá ainda necessidade de diplomas?
O que cabe à escola na
sociedade informacional? Cabe a ela organizar um movimento global de renovação
cultural, aproveitando-se de toda essa riqueza de informações. Hoje é a empresa
que está assumindo esse papel inovador. A escola não pode ficar a reboque das
inovações tecnológicas. Ela precisa ser um centro de inovação. Temos uma
tradição de dar pouca importância à educação tecnológica, a qual deveria começar
já na educação infantil.
Na sociedade da informação, a escola
deve servir de bússola para navegar nesse mar do conhecimento,
superando a visão utilitarista de só oferecer informações "úteis"
para a competitividade, para obter resultados. Deve oferecer uma formação geral
na direção de uma educação integral. O que significa servir de bússola?
Significa orientar criticamente, sobretudo as crianças e jovens, na busca de
uma informação que os faça crescer e não embrutecer.
Hoje vale tudo para aprender. Isso vai
além da "reciclagem" e da atualização de conhecimentos e muito mais
além da "assimilação" de conhecimentos. A sociedade do conhecimento
possui múltiplas oportunidades de aprendizagem: parcerias entre o público e o
privado (família, empresa, associações, etc.); avaliações permanentes; debate
público; autonomia da escola; generalização da inovação. As conseqüências para
a escola e para a educação em geral são enormes: ensinar a pensar; saber
comunicar-se; saber pesquisar; ter raciocínio lógico; fazer sínteses e
elaborações teóricas; saber organizar o seu próprio trabalho; ter disciplina
para o trabalho; ser independente e autônomo; saber articular o conhecimento
com a prática; ser aprendiz autônomo e a distância.
Neste contexto de impregnação do
conhecimento, cabe à escola: amar o conhecimento como espaço de realização
humana, de alegria e de contentamento cultural; selecionar e rever criticamente
a informação; formular hipóteses; ser criativa e inventiva (inovar); ser
provocadora de mensagens e não pura receptora; produzir, construir e
reconstruir conhecimento elaborado. E mais: numa perspectiva emancipadora da
educação, a escola tem que fazer tudo isso em favor dos excluídos, não
discriminando o pobre. Ela não pode distribuir poder, mas pode construir e reconstruir
conhecimentos, saber, que é poder. Numa perspectiva emancipadora da educação, a
tecnologia contribui muito pouco para a emancipação dos excluídos se não for
associada ao exercício da cidadania.
Como diz Ladislau Dowbor (1998:259), a
escola deixará de ser "lecionadora" para ser "gestora do
conhecimento". Segundo o autor, "pela primeira vez a educação tem a
possibilidade de ser determinante sobre o desenvolvimento". A educação
tornou-se estratégica para o desenvolvimento, mas, para isso, não basta
"modernizá-la", como querem alguns. Será preciso transformá-la
profundamente.
A escola precisa ter projeto, precisa
de dados, precisa fazer sua própria inovação, planejar-se a médio e a longo
prazos, fazer sua própria reestruturação curricular, elaborar seus parâmetros
curriculares, enfim, ser cidadã. As mudanças que vêm de dentro das escolas são
mais duradouras. Da sua capacidade de inovar, registrar, sistematizar a sua
prática/experiência, dependerá o seu futuro. Nesse contexto, o educador é
um mediador do conhecimento, diante do aluno que é o sujeito da sua própria
formação. Ele precisa construir conhecimento a partir do que faz e, para isso,
também precisa ser curioso, buscar sentido para o que faz e apontar novos
sentidos para o que fazer dos seus alunos.
Em geral, temos a tendência de
desvalorizar o que fazemos na escola e de buscar receitas fora dela quando é
ela mesma que deveria governar-se. É dever dela ser cidadã e desenvolver na
sociedade a capacidade de governar e controlar o desenvolvimento econômico e o
mercado. A cidadania precisa controlar o Estado e o mercado,
verdadeira alternativa ao capitalismo neoliberal e ao socialismo burocrático e
autoritário. A escola precisa dar o exemplo, ousar construir o futuro. Inovar é
mais importante do que reproduzir com qualidade o que existe. A matéria-prima
da escola é sua visão do futuro.
A escola está desafiada a mudar a
lógica da construção do conhecimento, pois a aprendizagem agora ocupa toda a
nossa vida. E porque passamos todo o tempo de nossas vidas na escola – não só
nós, professores – devemos ser felizes nela. A felicidade na escola não é uma
questão de opção metodológica ou ideológica, mas sim uma obrigação essencial
dela. Como diz Georges Snyders (1998) no livro A alegria na escola,
precisamos de uma nova "cultura da satisfação", precisamos da
"alegria cultural". O mundo de hoje é "favorável à
satisfação" e a escola também pode sê-lo.
O que é ser professor hoje? Ser
professor hoje é viver intensamente o seu tempo, conviver; é ter consciência esensibilidade.
Não se pode imaginar um futuro para a humanidade sem educadores, assim como não
se pode pensar num futuro sem poetas e filósofos. Os educadores, numa visão
emancipadora, não só transformam a informação em conhecimento e em consciência
crítica, mas também formam pessoas. Diante dos falsos pregadores da palavra,
dos marketeiros, eles são os verdadeiros "amantes da sabedoria", os
filósofos de que nos falava Sócrates. Eles fazem fluir o saber (não o dado, a
informação e o puro conhecimento), porque constróemsentido para a vida das
pessoas e para a humanidade e buscam, juntos, um mundo mais justo, mas
produtivo e mais saudável para todos. Por isso eles são imprescindíveis.
PARA
PENSAR A EDUCAÇÃO DO FUTURO
Jacques Delors (1998), coordenador do
"Relatório para a Unesco da Comissão Internacional Sobre Educação para o
Século XXI", no livro Educação: um tesouro a descobrir, aponta como
principal conseqüência da sociedade do conhecimento a necessidade de uma aprendizagem
ao longo de toda a vida (Lifelong Learning) fundada emquatro pilares que
são ao mesmo tempo pilares do conhecimento e da formação continuada. Esses
pilares podem ser tomados também como bússola para nos orientar rumo ao futuro
da educação.
Aprender a conhecer – Prazer de compreender, descobrir,
construir e reconstruir o conhecimento, curiosidade, autonomia, atenção. Inútil
tentar conhecer tudo. Isso supõe uma cultura geral, o que não prejudica o
domínio de certos assuntos especializados. Aprender a conhecer é mais do que
aprender a aprender. Aprender mais linguagens e metodologias do que conteúdos,
pois estes envelhecem rapidamente. Não basta aprender a conhecer. É preciso
aprender a pensar, a pensar a realidade e não apenas "pensar
pensamentos", pensar o já dito, o já feito, reproduzir o pensamento. É
preciso pensar também o novo, reinventar o pensar, pensar e reinventar o
futuro.
Aprender a fazer – É indissociável do aprender a
conhecer. A substituição de certas atividades humanas por máquinas acentuou o
caráter cognitivo do fazer. O fazer deixou de ser puramente instrumental. Nesse
sentido, vale mais hoje a competência pessoal que torna a pessoa apta
a enfrentar novas situações de emprego, mas apta a trabalhar em equipe, do que
a pura qualificação profissional. Hoje, o importante na formação do
trabalhador, também do trabalhador em educação, é saber trabalhar
coletivamente, ter iniciativa, gostar do risco, ter intuição, saber
comunicar-se, saber resolver conflitos, ter estabilidade emocional. Essas são,
acima de tudo,qualidades humanas que se manifestam nas relações
interpessoais mantidas no trabalho. A flexibilidade é essencial. Existem hoje
perto de 11 mil funções na sociedade contra aproximadamente 60 profissões
oferecidas pelas universidades. Como as profissões evoluem muito rapidamente,
não basta preparar-se profissionalmente para um trabalho.
Aprender a viver juntos – a viver com os outros. Compreender
o outro, desenvolver a percepção da interdependência, da não-violência,
administrar conflitos. Descobrir o outro, participar em projetos comuns. Ter
prazer no esforço comum. Participar de projetos de cooperação. Essa é a
tendência. No Brasil, como exemplo desta tendência, pode-se citar a inclusão de
temas/eixos transversais (ética, ecologia, cidadania, saúde, diversidade
cultural) nos Parâmetros Curriculares Nacionais, que exigem equipes
interdisciplinares e trabalho em projetos comuns.
Aprender a ser – Desenvolvimento integral da pessoa:
inteligência, sensibilidade, sentido ético e estético, responsabilidade pessoal,
espiritualidade, pensamento autônomo e crítico, imaginação, criatividade,
iniciativa. Para isso não se deve negligenciar nenhuma das potencialidades de
cada indivíduo. A aprendizagem não pode ser apenas lógico-matemática e
lingüística. Precisa ser integral.
Iniciou-se este texto procurando
situar o que significa "perspectiva". Sem pretender fazer qualquer
exercício de futurologia e muito mais no sentido de estabelecer pontos para o
debate, serão apontados aqui algumas categorias em torno da educação do
futuro, que indicam o surgimento de temas com importantes conseqüências para a
educação.
As categorias "contradição",
"determinação", "reprodução", "mudança",
"trabalho", "práxis", "necessidade",
"possibilidade" aparecem freqüentemente na literatura pedagógica
contemporânea, sinalizando já uma perspectiva da educação, a perspectiva da pedagogia
da práxis. Essas categorias tornaram-se clássicas na explicação do fenômeno da
educação, principalmente a partir de Hegel e de Marx. A dialética constitui-se,
até hoje, no paradigma mais consistente para analisar o fenômeno da educação.
Pode-se e deve-se estudá-la e estudar todas as categorias anteriormente
apontadas. Elas não podem ser negadas, pois ajudarão muito na leitura do mundo
da educação atual. Elas não podem ser negadas ou desprezadas como categorias
"ultrapassadas". Porém, também podemos nos ocupar mais
especificamente de outras, ao pensar a educação do futuro, categorias nascidas
ao mesmo tempo da prática da educação e da reflexão sobre ela. Eis algumas
delas a título de exemplo.
Cidadania – O que implica também tratar do tema
da autonomia da escola, de seu projeto político-pedagógico, da
questão da participação, da educação para a cidadania. Dentro desta categoria,
pode-se discutir particularmente o significado da concepção de escola
cidadã e de suas diferentes práticas. Educar para a cidadania ativa
tornou-se hoje projeto e programa de muitas escolas e de sistemas educacionais.
Planetaridade – A Terra é um "novo
paradigma" (Leonardo Boff). Que implicações tem essa visão de mundo sobre
a educação? O que seria uma ecopedagogia (Francisco Gutiérrez) e uma ecoformação (Gaston
Pineau)? O tema da cidadania planetária pode ser discutido a partir
desta categoria. Podemos nos perguntar como Milton Nascimento: "para que
passaporte se fazemos parte de uma única nação?" Que conseqüências podemos
tirar para alunos, professores e currículos?
Sustentabilidade – O tema da sustentabilidade
originou-se na economia ("desenvolvimento sustentável") e na ecologia,
para se inserir definitivamente no campo da educação, sintetizada no lema
"uma educação sustentável para a sobrevivência do planeta". O que
seria uma cultura da sustentabilidade? Esse tema deverá dominar muitos debates
educativos das próximas décadas. O que estamos estudando nas escolas? Não
estaremos construindo uma ciência e uma cultura que servem para a
degradação/deterioração do planeta?
Virtualidade – Esse tema implica toda a discussão
atual sobre a educação a distância e o uso doscomputadores nas escolas (Internet).
A informática, associada à telefonia, nos inseriu definitivamente na era
da informação. Quais as conseqüências para a educação, para a escola, para a
formação do professor e para a aprendizagem? Conseqüências da obsolescência do
conhecimento. Como fica a escola diante da pluralidade dos meios de
comunicação? Eles abrem os novos espaços da formação ou irão
substituir a escola?
Globalização – O processo da globalização está
mudando a política, a economia, a cultura, a história e, portanto, também a
educação. É um tema que deve ser enfocado sob vários prismas. A globalização
remete também ao poder local e às conseqüências locais da nossa
dívida externa global (e dívida interna também, a ela associada). O global e o
local se fundem numa nova realidade: o "glocal". O estudo desta
categoria remete à necessária discussão do papel dos municípios e do "regime
de colaboração" entre União, estados, municípios e comunidade, nas
perspectivas atuais da educação básica. Para pensar a educação do futuro, é
necessário refletir sobre o processo de globalização da economia, da cultura e
das comunicações.
Transdisciplinaridade – Embora com significados distintos,
certas categorias como transculturalidade, transversalidade,
multiculturalidade e outras como complexidade e holismo também
indicam uma nova tendência na educação que será preciso analisar. Como
construir interdisciplinarmente o projeto pedagógico da escola? Como relacionar
multiculturalidade e currículo? É necessário realizar o debate dos PCN. Como
trabalhar com os "temas transversais"? O desafio de uma educação sem
discriminação étnica, cultural, de gênero.
Dialogicidade, dialeticidade – Não se pode negar a atualidade de
certas categorias freireanas e marxistas, a validade de uma pedagogia dialógica
ou da práxis. Marx, em O capital, privilegiou as categorias hegelianas
"determinação", "contradição", "necessidade" e
"possibilidade". A fenomenologia hegeliana continua inspirando nossa
educação e deverá atravessar o milênio. A educação popular e a pedagogia da
práxis deverão continuar como paradigmas válidos para além do ano 2000.
A análise dessas categorias e a identificação
da sua presença na pedagogia contemporânea podem constituir-se, sem dúvida, num
grande programa a ser desenvolvido hoje em torno das "perspectivas atuais
da educação". Não se pretende aqui dar respostas definitivas. Com esse
pequeno texto introdutório, procurou-se apenas iniciar um debate sobre as
perspetivas atuais da educação, sem a intenção de, com isso, encerrá-lo.
Existem muitos outrosdesafios para a educação. A reflexão crítica não
basta, como também não basta a prática sem a reflexão sobre ela. Aqui, são
indicadas apenas algumas pistas, dentro de uma visão otimista e crítica – não
pessimista e ingênua – para uma análise em profundidade daqueles que se
interessam por uma "educação voltada para o futuro", como dizia o
grande educador polonês, o marxista Bogdan Suchodolski.
Referências
Bibliográficas
DELORS,
J. Educação: um tesouro a descobrir. São Paulo, Cortez, 1998. DOWBOR,
L. A reprodução social. São Paulo, Vozes, 1998.
GADOTTI,
M. Perspectivas atuais da educação. Porto Alegre, Ed. Artes Médicas, 2000.
____________.
Perspectivas Atuais da Educação. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0102-88392000000200002&script=sci_arttext&tlng=pt%C3%DC>
Acesso em 11 de Março de 2013.
SNYDERS,
G. A alegria na escola. São Paulo, Ed. Manole, 1988.
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