Em conceito geral, pode-se
dizer que a polissemia se apresenta quando uma mesma palavra adquire diversos
significados. A amplitude semântica do vocábulo é influenciada por fatores como
contexto, situacionalidade, enunciado, etc.
Perceba a presença da
polissemia nos exemplos abaixo:
Ex. 01:
Na tirinha de Mauricio, a polissemia se apresenta
no termo "cabeças". Note que, enquanto a primeira personagem usa a
expressão "cabeças de gado" como medida para designar o quantitativo
de animais pertencentes a seu pai, Chico Bento, a segunda personagem, atribui
ao vocábulo "cabeça" o significado de parte da anatomia bovina.
Ex. 02:
No exemplo ao lado, a
polissemia se manifesta nas palavras "ligue" e "engano".
Observe que a anunciante é uma empresa de telefonia, a Embratel; logo, ela faz
um jogo de palavras com "não ligue" e com "engano". Dependendo
do contexto, não ligue tanto pode significar não se importe, como não faça a
ligação/ não acione. Da mesma forma, engano tanto pode significar erro/
equívoco, como trote (via telefone).
Ex. 03:
Nesse exemplo, a polissemia se manifesta na palavra "terra". Observe que há uma fileira de pessoas ostentando a bandeira do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) e acima deles, no canto esquerdo superior da imagem, há uma placa divulgando os serviços de um provedor de internet. O MST solicita a reforma agrária, ou seja, terra; e o nome da organização que oferece seus serviços no anúncio é terra.
Ex. 04:
Nessa imagem há
uma placa de sinalização de trânsito, sua função é indicar a presença de um
acidente geográfico que caracteriza-se pelo rebaixamento em determinada parte
do solo, sendo esse denominado depressão. Mas observe que há pessoas em volta da
placa, a postura dessas pessoas é o que nos faz despertar para a polissemia
existente no termo depressão, dado o fato de que esse também é empregado para
referenciar um estado mental caracterizado por sentimentos como abatimento, tristeza, melancolia.
A polissemia, aqui, se apresenta na expressão "passa a perna". Ela tanto pode indicar um ato desonesto que envolve enganar/ ludibriar, quanto pode referir-se à ausência de pernas na anatomia do candidato.
Ex. 06:
O jogo de
palavras garante a polissemia, nesse exemplo, através dos significados
atribuídos ao vocábulo "coroa". O termo "assistência
funeral" nos permite compreender que o anúncio refere-se a uma coroa de
flores; no entanto, a imagem de um senhor idoso nos faz pensar em outro sentido
atribuído a coroa, ou seja, numa senhora de idade avançada.
No entanto, conforme ressalta Perini (2006), existem algumas noções básicas que, não obstante sua importância, nunca foram convenientemente definidas. Um dos exemplos mais gritantes é o da diferença entre homonímia e polissemia. Como veremos, distinguir claramente entre casos de homonímia e casos de polissemia é fundamental para se conferir rigor à descrição gramatical; no entanto, e apesar de muitos esforços nesse sentido, até hoje não se conhece uma maneira de distinguir claramente aos dois fenômenos.
Para compreender esse questionamento, observe os exemplos abaixo:
a1. A casa é verde.
a2. A fruta está verde.
Devemos considerar verde uma palavra ou duas?
O problema que se coloca é o seguinte: devemos considerar verde uma única palavra, ou duas? Se a considerarmos uma única palavra, teremos de dizer que tem mais de um significado, ou seja, que é polissêmica. Já se distinguirmos duas palavras verde, diremos das duas que têm a mesma pronúncia e grafia, e que são homonímias. Esse é um dilema que até hoje não recebeu solução satisfatória.
A saída tradicional se baseia em um conjunto heterogêneo de critérios. Segundo essa proposta (exemplificada em Dubois & Dubois, 1971), distinguem-se duas palavras (dois itens léxicos) quando há uma diferença de classe gramatical, ou então quando há uma diferença semântica grande e nítida.
Referências Bibliográficas
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AMARAL, Emília. et. all. Novas Palavras: Literatura, Gramática, Redação e Leitura. Vol. 2. São Paulo: FTD, 1997.
BRAIT, Beth. A personagem. São Paulo: Ática, 2006.
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D’ONOFRIO, Salvatore. Teoria do texto I. São Paulo: Ática, 1995.
GOLDSTEIN, N. Versos, sons e ritmos. São Paulo: Ática, 2007.
MARTINO, Agnaldo. Português esquematizado: gramática, interpretação de texto, redação oficial, redação discursiva. São Paulo: Saraiva, 2012.
MOISÉS, M. A criação literária: prosa I. São Paulo: Cultrix, 2003.
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