O Trovadorismo se estende do final do século XII ao século XIV, é o período literário que reúne basicamente os poemas feitos pelos trovadores para serem cantados em feiras, festas e nos castelos durante os últimos séculos da Idade Média. É contemporâneo às lutas pela independência, ao surgimento do Estado português e à dinastia de Borgonha (a primeira dinastia perdurou de 1109 a 1385).
Os historiadores costumam limitar o Trovadorismo entre os anos de 1189 (ou 1198) e 1385. Mais importante que essas datas convencionais é saber que o Trovadorismo corresponde à primeira fase da história portuguesa: ao período da formação de Portugal como reino independente.
A poesia trovadoresca se manifesta através de cantigas, que se dividem em:
Cantigas de amigo
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• Gênero Lírico
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Cantigas de amor
• Gênero satírico - Cantigas de escárnio e de maldizer
A partir do século XIII, as cantigas passaram a ser copiadas e colecionadas em manuscritos chamados Cancioneiros.
Dentre esses, destacam-se três:
• O Cancioneiro da Ajuda: composto em fins do século XIII, no reinado de Afonso III. Constitui-se de 310 cantigas, sendo a maior parte representada por Cantigas de Amor;
• O Cancioneiro da Vaticana: criado no século XVI, constitui-se de 1.205 cantigas, incluindo todos os tipos de cantigas. Seu nome deve-se ao fato de ter sido descoberto na Biblioteca do Vaticano, em Roma.
• O Cancioneiro da Biblioteca Nacional de Lisboa: trata-se de uma cópia italiana criada no século XVI, provavelmente o original pertencia ao século anterior. Constitui-se de 1.647 cantigas, de todos os tipos.
Trovador, Jogral, Segrel e Menestrel
→ O TROVADOR era o artista completo: compunha, cantava e podia instrumentar as cantigas; as mais das vezes, era fidalgo decaído.
→ O JOGRAL era uma designação menos precisa: podia referir o saltimbanco, o truão, o actor mímico, o músico e até mesmo aquele que compunha suas melodias; de extracção inferior, por seus méritos podia subir socialmente e ser tido como trovador.
→ O SEGREL designava um artista de controvertida condição: colocado entre o jogral e o trovador, era o trovador profissional, que ia de Corte a Corte interpretando cantigas próprias ou não, a troco de soldo.
→ O MENESTREL era como se chamava o músico da Corte.
Acontecimentos que influenciaram a literatura portuguesa, e a cultura como um todo:
CONTEXTO HISTÓRICO DA 1ª FASE DE PORTUGAL
(SÉC. XII – XIV)
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Ano
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Acontecimento
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1095
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O rei Afonso VI, de Leão e Castela, concede o condado Portucalense a seu genro Henrique de Borgonha.
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1109 a 1385
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Dinastia de Borgonha. Declínio do feudalismo.
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1139
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D. Afonso Henriques, filho e sucessor de Henrique de Borgonha, após vencer os mouros em batalha, declara a independência do condado Portucalense e proclama-se rei. Início da 1ª dinastia.
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1143
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Reconhecimento da independência de Castela (Tratado de Zamora).
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1385
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Fim da Revolução de Avis; D. João I é aclamado rei de Portugal; início da dinastia de Avis.
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Antes de conhecer a cronologia do Trovadorismo convém conhecer alguns aspectos dotados de importância e influência na história da Península Ibérica, são eles:
• O Feudalismo → Já em declínio, terá reflexos até mesmo na linguagem da poesia amorosa. As cortes dos reis e dos grandes senhores feudais são os centros de produção cultural e literária.
• A Reconquista do território → dominado pelos árabes desde o século VIII, faz prolongar, na nobreza ibérica, o espírito guerreiro e aventureiro das Cruzadas. Daí o gosto tardio em Portugal pelas novelas de cavalaria.
• O Teocentrismo → o profundo espírito religioso medieval que se refletirá tanto nas já citadas novelas de cavalaria como na poesia de temática religiosa (Cantigas de Santa Maria, de D. Afonso X) e nas hagiografias (vidas de santos) e obras de devoção.
CRONOLOGIA DO TROVADORISMO – SÉCULOS XII a XIV
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Ano
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Acontecimento
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1189 ou 1198
| Início do Trovadorismo. Provável data da Cantiga da Ribeirinha, de Paio Soares de Taveirós. |
1385
| Término do Trovadorismo. Fim da dinastia de Borgonha. |
CARACTERÍSTICAS DO TROVADORISMO
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Língua: | Galego-português |
Tradição: | Oral e coletiva |
Poesia: | Cantada e acompanhada por instrumentos musicais, colecionada em Cancioneiros. |
Autores: | Trovadores |
Intérpretes: | Jograis, segréis e menestréis. |
Gêneros: | Lírico (cantigas de amigo, cantigas de amor) e Satírico (cantigas de escárnio, cantigas de maldizer). |
A cantiga a seguir, composta por Paio Soares de Taveirós, inaugura o período literário em língua galaico-portuguesa. Trata-se de uma Cantiga de Amor em homenagem a D. Maria Pais Ribeira, onde o eu-lírico fala do amor platônico vivenciado por um plebeu, sendo a dama amada uma mulher nobre e, logo, inacessível.
CANTIGA DA RIBEIRINHA (OU CANTIGA DE GARVAIA[1]) | |
Versos Originais |
Português Atual
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No mundo non me sei parelha, mentre me for' como me vai, mia senhor branca e vermelha, Queredes que vos retraia quando vos eu vi em saia! Mao dia me levantei, que vos enton non vi fea! E, mia senhor, des aquel di', ai! me foi a mi muin mal, e vós, filha de don Paai Moniz, e ben vos semelha d'haver eu por vós guarvaia, pois eu, mia senhor, d'alfaia Nunca de vós ouve nem ei valía d'ũa correa. ca ja moiro por vós - e ai! | No mundo ninguém se assemelha a mim (parelha: semelhante) enquanto a vida continuar como vai, porque morro por vós, e ai minha senhora de pele alva e faces rosadas, quereis que vos descreva (retrate) quando vos eu vi sem manto (saia: roupa íntima) Maldito dia! me levantei que não vos vi feia (ou seja, a viu mais bela) E, minha senhora, desde aquele dia, ai! tudo me foi muito mal e vós, filha de don Pai Moniz, e bem vos parece de ter eu por vós guarvaia (guarvaia: roupa luxuosa) pois eu, minha senhora, como mimo (ou prova de amor) de vós nunca recebi algo, mesmo que sem valor. (correa: coisa sem valor) |
Veja alguns vídeos onde encontram-se reproduções de cantigas trovadorescas:
Fonte das imagens:
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