A
Coesão e a Coerência são elementos que se fazem necessários à estrutura de um
texto para que este conduza eficazmente a missão de “transmitir uma mensagem”.
A Coerência Textual é
a articulação entre partes de um texto, obtida através da organização lógica de
idéias e significados. Um texto coerente é um texto que possui uma “unidade de
sentido”.
A Coesão Textual é
a ligação entre partes de um texto, sendo esta obtida a partir do uso de
operadores linguísticos específicos.
Ambas são articulações gramaticais
existentes entre as palavras, orações, frases, parágrafos e partes maiores de
um texto que garantem sua conexão sequencial.
COERÊNCIA TEXTUAL
São fatores de grande importância para a existência de coerência, bem
como para a construção semântica, num texto:
• Idéias ordenadas numa sequência lógica;
• Cuidado com a gramática, pontuação adequada;
• Fuga ao escapismo e ao invencionismo;
• Nexo do texto consigo mesmo (coerência interna);
• Nexo do texto com a realidade (coerência externa);
• Nexo do texto com a proposta dissertativa.
Note o modo como coesão e coerência se relacionam na obra de Millôr,
abaixo:
A vaguidão específica
“As mulheres têm uma maneira de falar que eu chamo de
vago-específica”.
(Richard Gehman)
– Maria, ponha isso lá fora em qualquer parte.
– Junto com as outras?
– Não ponha junto com as outras, não. Senão pode vir alguém e querer
fazer alguma coisa com elas. Ponha no lugar do outro dia.
– Sim senhora. Olha, o homem está aí.
– Aquele de quando choveu?
– Não, o que a senhora foi lá e falou com ele no domingo.
– Que é que você disse a ele?
– Eu disse para ele continuar.
– Ele já começou?
– Acho que já. Eu disse que podia principiar por onde quisesse.
– É bom?
– Mais ou menos. O outro parece capaz.
– Você trouxe tudo de cima?
– Não senhora, só trouxe as coisas. O resto não trouxe porque a senhora
recomendou para deixar até a véspera.
– Mas traga, traga. Na ocasião, nós descemos tudo de novo. É melhor
senão atravanca a entrada e ele reclama como na outra noite.
– Está bem vou ver como.
(Millôr Fernandes)
Na imagem ao lado, percebe-se o modo como
foi criado um trocadilho a partir dos significados atribuídos ao vocábulo
"brasília". A coerência emerge pelo fato de "Lula" ser o
nome de um ex-presidente do Brasil e "Brasília" ser o nome da capital
do país.
O texto abaixo, no entanto, é uma produção incoerente:
“O gato comeu o peixe que meu pai pescou.
O peixe era grande. Meu pai é alto. Eu gosto de meu pai. Minha mãe também
gosta. O gato é branco. Tenho roupas muito brancas”.
Já o texto a seguir caracteriza-se como
coerente, pois o uso gramaticalmente correto dos elementos da língua permite
que as sentenças se relacionem entre si.
“Meu pai pescou um peixe enorme, quase do
seu tamanho - e olha que ele é um homem bem alto! Só que, quando chegou em
casa, depois da pescaria, ele esqueceu o peixão sobre a mesa e o nosso gato o
comeu todinho. Não tem problema, meu pai é atrapalhado, mas agente gosta dele
assim mesmo”.
COESÃO
TEXTUAL
A Coesão Textual é um mecanismo linguístico que articula as informações
de um texto, relacionando sentenças com o que veio antes e com o que virá
depois, no propósito comunicativo de, conjuntamente, tecer o texto. Em
consequência, ao lermos um texto bem construído, não nos perdemos por entre os
enunciados que o constituem.
Ex.:
Ele estava doente. Não foi à aula.
(Organização lógica: Coerência)
Ele estava doente, por isso não foi à aula.
(Relação de consequência: Coesão)
A Coesão Textual ocorre quando a interpretação de um elemento no
discurso é dependente da de outro. Um pressupõe o outro. Trata-se de uma
relação semântica, realizada por meio do sistema léxico-gramatical, que dá
maior legibilidade ao texto.
Ex.:
O filho desobedeceu à mãe e se deu mal. Ela sabia que isso iria
acontecer com ele.
Os jovens não têm noção do perigo. Eles acham que são imunes a tudo.
A Coesão de um texto não é fruto do acaso, mas sim das relações de
sentido que existem entre os enunciados. Essas são manifestadas sobretudo por
certa categoria de palavras: Os Conectivos ou elementos de coesão.
CONECTIVOS OU ELEMENTOS DE COESÃO
A função dos conectivos é exatamente a de pôr em evidência as várias
relações de sentido que existem entre os enunciados. São várias as palavras
que, num texto, assumem a função de conectivo ou de elemento de coesão.
Dentre estes, destacam-se:
• Preposições: a, de, com, para, por, etc;
• Conjunções: que, para que, quando, embora, mas, e, ou, etc;
• Pronomes: ele, ela, seu, sua, este, esse, aquele, que, o qual, etc;
• Advérbios: aqui, ali, aí, lá, assim, etc.
COERÊNCIA E COESÃO TEXTUAL
É possível que haja Coerência sem Coesão Textual, conforme observa-se
abaixo:
“Olhar fito no horizonte. Apenas o mar imenso. Nenhum sinal de vida
humana. Tentativa desesperada de recordar alguma coisa. Nada”.
Da mesma forma, é possível que haja Coesão sem Coerência textual,
conforme observa-se abaixo:
“Fui à praia me bronzear porque estava nevando e, quando isso ocorre, o
calor aumenta, o que faz com que sintamos frio”.
RETOMANDO A COESÃO TEXTUAL...
Recorde sempre que Coesão não é condição necessária nem suficiente para
que uma composição verbal seja tomada como texto. No entanto, o uso de elementos coesivos possui o adicional de assegurar
a legibilidade, explicitando os tipos de relações entre os elementos
componentes do texto.
São mecanismos de Coesão Textual:
1 Referencial;
2 Elipse;
3 Lexical;
4 Substituição;
• Conjunção ou Conexão.
OS MECANISMOS DE
COESÃO TEXTUAL
ELEMENTOS COESIVOS
OS MECANISMOS DE COESÃO TEXTUAL
ELEMENTOS COESIVOS
A função dos elementos coesivos é tornar mais claras e precisas as
idéias expressas no texto, de modo a garantir legibilidade e evitar
ambiguidades ou incoerências.
1 COESÃO REFERENCIAL
A coesão referencial é estabelecida por meio de expressões que retomam ou antecipam idéias mencionadas no texto, estando intimamente relacionada com as regras de repetição e da progressão. Esse tipo de coesão serve para evitar a repetição desnecessária de termos, além de garantir que uma informação nova esteja claramente conectada a outra que já havia sido mencionada. Tal fenômeno pode se dar, basicamente, de duas formas:
1.1 Emprego de Pronomes:
Os pronomes são bastante úteis para evitar repetições desnecessárias,
pois permitem o encadeamento de idéias e podem substituir os termos a que
remetem. Observe abaixo o mecanismo que ocasiona a referenciação a um termo
através de um pronome.
Ex.:
a) “Nos cursos de Educação Física está ocorrendo uma revolução, que vem provocando questionamentos sobre
alguns conceitos...”
b) O Brasil exporta cacau e soja. Esta é plantada na região Sul; aquele, no Nordeste.
c) Vi no outro lado da rua o João, chamei-o, disse-lhe o que pretendia, e ele acolheu a minha idéia e ajudou-me.
d) Peço-lhe apenas isto: que não se perca.
e) O cão seguia-o para todo o lado,
reparou o rapaz quando se voltou
f) Esta foi sempre a minha doutrina: tudo que há de bom e útil no mundo, se
consegue procedendo por amor ao próximo.
g) O Brasil é um país onde o incentivo à educação é primordial.
1.2. Emprego de Itens do Léxico na Coesão Referencial
Quando se escreve um texto, geralmente se faz necessário interromper
mais o processo de composição de uma vez, em busca de um sinônimo ou uma
expressão que substitua de forma adequada alguma palavra que você já usou. Isso
é uma estratégia de Coesão Lexical, a qual não se resume a isso, porém.
2 COESÃO LEXICAL
A coesão lexical conecta as partes do texto e evita a repetição
vocabular por meio do uso de substantivos, verbos e adjetivos; o que exige um
vocabulário amplo, adquirido apenas com a leitura constante e frequentes
consultas ao dicionário. Note isso nos exemplos a seguir:
Ex.:
a) João Paulo II esteve, ontem, em Varsóvia. Na capital da Polônia, o papa disse que a igreja continua a favor do celibato.
b) João Paulo II esteve, ontem, em Varsóvia. Lá, Sua Santidade disse que a Igreja continua a favor de celibato.
c) Os automóveis colocados à venda durante a exposição não obtiveram
muito sucesso. Isso talvez tenha ocorrido porque os carros não estavam em um
lugar de destaque no evento.
3 COESÃO POR ELIPSE
Ocorre quando elemento do texto é omitido em algum dos contextos em que
deveria ocorrer. Observe:
Ex.:
a) -Pedro vai comprar o carro?
- Vai!
b) Cazuza viveu intensamente. Tinha fama de rebelde, mas queria mesmo era
transgredir.
4 COESÃO POR SUBSTITUIÇÃO
Trata-se da colocação de um item lexical com valor coesivo no lugar de
outro, conforme nota-se nos exemplos abaixo:
Ex.:
a) Pedro comprou um carro novo e José também.
b) Minha prima comprou um Uno. Eu também quero um.
c) O padre ajoelhou-se. Todos fizeram o mesmo.
5 CONJUNÇÃO OU CONEXÃO
A conjunção é um recurso coesivo diferente dos anteriores porque depende
das relações significativas estabelecidas entre orações, entre períodos ou
entre parágrafos. Os principais elementos conjuntivos são as
conjunções/locuções conjuntivas, os advérbios/locuções adverbiais,
preposições/locuções prepositivas e itens continuativos.
Ex.:
a) O futebol brasileiro não assusta mais ninguém e adversários mais
fracos já nos vencem com certa facilidade. Apesar do quadro adverso, a
torcida brasileira considera o nosso futebol o melhor do mundo.
b) Fomos a Gramado. Depois, jantamos em Nova Petrópolis.
Note que a coesão por encadeamento pode ser feita por conexão ou por
justaposição.
1) A coesão por conexão traz elementos que:
a) Fazem uma gradação na direção de uma conclusão: "até",
"mesmo", "inclusive" etc;
b) Argumentam em direção a conclusões opostas: "caso
contrário", "ou", "ou então", "quer... quer"
etc;
c) Ligam argumentos em favor de uma mesma conclusão: "e",
"também", "ainda", "nem", "não só... mas
também" etc;
d) Fazem comparação de superioridade, de inferioridade ou igualdade:
"mais... do que", "menos... do que", "tanto...
quanto" etc
e) Justificam ou explicam o que foi dito: "porque", "já
que", "que", "pois" etc;
f) Introduzem uma conclusão: portanto, logo, por conseguinte, pois etc;
g) Contrapõem argumentos: "mas", "porém",
"todavia", "contudo", "entretanto", "no
entanto", "embora", "ainda que" etc;
h) Indicam uma generalização do que já foi dito: "de fato",
"aliás", "realmente", "também" etc;
i) Introduzem argumento decisivo: "aliás", "além
disso", "ademais", "além de tudo" etc;
j) Trazem uma correção ou reforçam o conteúdo do já dito: "ou
melhor", "ao contrário", "de fato", "isto
é", "quer dizer", "ou seja" etc;
l) Trazem uma confirmação ou explicitação: "assim",
"dessa maneira", "desse modo" etc;
m) especificam ou exemplificam o que foi dito: "por exemplo",
como etc.
2) Os elementos coesivos por justaposição estabelecem a sequência do
texto, ou seja:
a) introduzem o tema ou indicam mudança de assunto: "a
propósito", "por falar nisso", "mas voltando ao
assunto" etc;
b) marcam a sequência temporal: "cinco anos depois", "um
pouco mais tarde" etc;
c) indicam a ordenação espacial: "à direita", "na
frente", "atrás" etc;
d) indicam a ordem dos assuntos do texto: "primeiramente",
"a seguir", "finalmente“ etc.
Referências Bibliográficas
FIORIN, José Luiz; SAVIOLI, Francisco Platão. Para Entender O
Texto: Leitura E Redação. 18 ed. São Paulo: Ática, 2007.
GARCIA, Othon Moacyr. Comunicação Em Prosa Moderna: Aprenda A Escrever,
Aprendendo A Pensar. 24. ed. Rio de Janeiro: FGV, 2004.
GERALDI, João Wanderley. O Texto Na Sala De Aula. 5. ed. São
Paulo: Ática, 2007.
_______________________; CITELLI, Beatriz (Coord.). APRENDER E
ENSINAR COM TEXTOS DE ALUNOS. 6. ed. São Paulo: Cortez, 2008.
RANGEL, Mary. Dinâmicas De Leitura Para Sala De Aula. 4 ed.
Petrópolis-RJ: Vozes, 2006.
0 comentários:
Enviar um comentário