Havia um reizinho
muito presunçoso e sortudo que era amado pela mais bela montanha alta do mundo.
A montanha gostava do sorriso do reizinho, do tom róseo em sua face e lhe
queria bem sem preocupar-se em ter um porquê. Todas as tardes a montanha fazia
balançar suas árvores para que as copas produzissem uma brisa suave e o pequeno
reizinho se sentisse beijado, mas ele, apesar de amá-la mais até do que a si
mesmo, jamais lhe fez algo muito bonito ou generoso. Um dia Deus resolveu que
queria algo realmente valioso em sua casa, e escolheu a mais bela alta montanha
do mundo. Os ventos se intensificaram, os mares se revolveram e, enquanto todas
as forças naturais pareciam despejar ira, a montanha protegeu o reizinho em
suas entranhas. Quando enfim cessaram os ruídos, e o solo voltou a ser
estático, o reizinho abriu os olhos e descobriu ser cego; tentou erguer-se, mas
percebeu não ter pernas; decidiu derrubar as paredes que o envolviam, mas
sentiu que seus braços eram raquíticos e sem vida. Tudo lhe parecia confuso e
estava ele tão próximo de perder a lucidez que uma nuvem comoveu-se e induziu o
vento a fazer ruir a simplória gruta que retinha a pequena realeza. Nesse
momento o reizinho descobriu que sua mais bela alta montanha do mundo já não
estava mais ali e que todas as qualidades que ele supunha ter eram, na verdade,
efeito do amor que lhe dedicava sua montanha. Agora o reizinho já não tinha
coroa, sorte ou presunção. Era apenas um menino como tantos outros, e ainda
mais bobo por já não ter o que lhe cativara o coração.
Escrito, relido, re-sentido, existe por amor à minha avó. ♥